25.9.04

Cela, o informador

Parece que sim.
Apeciar a obra de alguém implica uma qualquer espécie de "negação", "desculpabilização", "comprensão" para com a vida/actos/atitudes do artista? Não. Criação por uma lado e vida pessoal, política, amorosa, moral, por outro são apreciadas independentemente uma da outra. As obras artísticas valem por si mesmas. Certamente que para a sua compreensão integral, por vezes é necessário apercebermo-nos de múltiplos factores exteriores à obra (pessoais, culturais, económicos, polticoios, religiosos, filosóficos, etc.). Ainda assim, não vejo que seja necessário realizar um juízo sobre os mesmos, mas sim apercebermo-nos da relevância dessas influências ou inspirações para a obra. Ou seja, continua esta a ser o ponto essencial de interesse e de admiração.
Naturalmente, os defensores de causas relacionadas com aspectos concretos da vida do autor terão a tentação de se apropriarem dessa similitude(obra/criador) para validar a sua própria argumentação. Mas tal é abusivo. Se determinado autor/criador era católico, homosexual, bígamo, fascista, comunista, liberal, pedófilo, muçulmano, mulher, nacionalista, ladrão, etc., etc., tais aspectos ajudam e podem mesmo ser vitais para compreender a essência da obra que se admira. Mas em nada acrescentam sobre a relevância ou pertinência de tais convicções/comportamentos. É meramente uma questão factual/estatística.
(p.s Camilo José Cela não é dos meus autores preferidos. Questão de gosto, não de mérito que para isso não tenho qualificações. Saber que ele foi um pulha delator ao serviço do ditador Franco, não me faz apreciar nem mais nem menos a sua obra.