19.12.04

CENAS DO QUOTIDIANO NUM PAÍS ONDE A CONCORRÊNCIA É EXPRESSÃO VAZIA (2)

Bébé doente em casa e correria para a farmácia. Como é Domingo, tive de parar na montra da mais próxima para tentar perceber quais são as que estão de serviço. Busca pelas ruas do Porto, carro mal estacionado e tentativa de fuga à chuva morrinhenta até à cruz verde de luminosidade intermitente. Lá chegado deparei com um cubículo, pouco maior do que uma cozinha, atafulhado de gente. O fim da fila estendia-se resignadamente pelo passeio. À chuva.
Atrás de mim coloca-se uma velhinha de receita na mão. Transbordando cavalheirismo liberal ofereci-lhe o meu lugar no que fui imediatamente imitado pelos demais que tinham ficado do lado de fora. Com um gesto moderadamente altivo, ela recusou:
- Obrigada mas não é preciso. Já estou habituada.
Todos nós vamos ficando, pensei eu. Tanto que a maioria até julga que é normal. Logo fatal.