CAVACO SILVA: Portugal precisa de apostar nas exportações
Na cabeça de um keynesiano as coisas funcionam assim: a macroeconomia é uma ciência que estabelece relações de causalidade entre variáveis como o PIB, o consumo interno e as exportações. Uma variação do PIB é causada por um aumento das exportações ou pelo aumento da procura interna. O aumento da procura interna e das exportações são por sua vez eventos sem causa.
Dentro desta lógica, se o PIB não cresce, aumentem-se as exportações. Há uns anos, esta história acabava com a desvalorização da moeda, o mesmo é dizer, com um novo imposto para subsidiar as exportações. Hoje em dia acaba sempre com subsídios indirectos às exportações via formação profissional, projectos de investigação ou incentivos fiscais, o mesmo é dizer, subsídios ao consumo dos espanhóis e dos alemães.
O que é preciso perceber é porque é que as exportações portuguesas não são competitivas. E não são pela mesma razão que o PIB não aumenta: porque toda a economia portuguesa utiliza recursos escassos de forma ineficiente. As exportações portuguesas não são competitivas porque o sector eléctrico não é eficiente, o sector das telecomunicações não é eficiente, a educação não é eficiente, a saúde não é eficiente, a burocracia do estado não é eficiente, o turismo não é eficiente, a distribuíção não é eficiente ...
Ora, as empresas exportadoras são consumidoras de produtos e serviços produzidas por empresas ineficientes e têm que suportar os impostos de um estado ineficiente. Esta ineficiência toda reflecte-se nos custos das empresas exportadoras que por essa razão não podem ser competitivas.
Uma aposta nas exportações feita pelo método habitual do subsídio é feita à custa dos restantes sectores da economia. O sector exportador pode ficar mais competitivo, mas os restantes sectores, dos quais todos precisamos, ficarão ainda menos competitivos do que já são.
Na verdade, o que interessa é saber onde é que os recursos escassos são aplicados de forma mais eficiente. E essa é uma tarefa que os privados fazem bem quando o estado não atrapalha. Uma economia funciona como um sistema de vasos comunicantes. Se alguém descobrir uma forma mais eficiente de fazer pão, serão libertados recursos que tornarão todos os outros sectores mais competitivos. Por isso, qualquer melhoria em qualquer sector beneficia toda a economia.