António Borges é ciclicamente levado aos ombros por alguns sectores dos media como putativa esperança para o PSD. Sempre que há uma crise de liderança política há sempre alguém nas redacções dos jornais económicos a lembrar-se do "Borges". Desta vez, foi ele mesmo a declarar-se «disponível». Parece que, agora, só falta que o país laranja, suplicante, o vá buscar lá onde ele se encontra.
Acontece que essa pose de "disponibilidade senatorial", por si só, não basta. Ser um bom político está a quilómetros de ser um excelente gestor ou um académico com provas dadas. E ser um bom governante também. A participação na vida pública não pode subsistir de meras mensagens cassândricas encriptadas em linguagem economicista. Precisa de participação activa, de comunicação com as pessoas, até - pasmem os borgeanos! - com as pessoas comuns.
Não estou com isso a dizer que Borges deveria entrar directamente no lamaçal nauseabundo das estruturas distritais e concelhias do PSD - mas digo que Borges ainda não demonstrou que tem gabarito político, não justificou nenhuma característica de liderança política, não patenteou qualquer ideia estratégica para o país. O país real não sabe quem é Borges, não sonha o que Borges pensa e o que Borges quer. E Borges nunca se deu ao trabalho de nos elucidar. Prefere que as excitadas redacções económicas o indiquem mantendo-se a "genialidade de Borges encerrada nas profundezas de Borges" - parafraseando a figura queirosiana de Pacheco.
Borges para ser o que quer ser ainda tem muito que provar. Politicamente.