11.12.04

FIM DE REGIME

O Dr. Mário Alberto Nobre Soares, do altos dos seus vetustamente comemorados oitenta anos, tem razão: não fora o facto de estarmos na «Europa» e dos «europeus» não apreciarem por aí além aventuras de caserna, teríamos a «tropa» na rua para repor a «ordem», a «estabilidade» e o «progresso», ou seja, a felicidade da pátria, como tantas vezes foram fazendo ao longos dos dois últimos séculos.
É claro que a dita «tropa» teria provavelmente alguma dificuldade em dar alguns tiros para o ar, canalizados que têm sido os fundos dessa gloriosa instituição para meios de maior alcance, sumarinos, helicópteros, equipamentos de grande sofisticação, apropriados para enfrentar os temíveis perigos externos que ensombram Portugal. Mas, também o 25 de Abril foi feito por uma «tropa» sem munições, e isso não impediu os valorosos militares de derrubar um temível regime fascista.
Sucede que a crise em que de há muito vivemos dificilmente se resolveria à lei da bala. Ela é grave e profunda e, provavelmente como em poucos momentos da nossa História, resulta do âmago da nossa identidade. À falta de melhor, os portugueses entretêm-se a devorar-se a si próprios, enredados em intrigas, pequenas conspirações, maldicências e outras patifarias diversas. O ambiente no país, de Belém a S. Bento, de S. Pedro da Cova a Freixo-de-Espada, é fétido, e deixa antever o odôr característico dos cadáveres adiados.
Não tivemos a «tropa» na rua, mas o Supremo Comandante das Forças Armadas na televisão, assegurando-nos que em Fevereiro será reposta para os próximos quatro anos a normalidade institucional. É quanto basta.
Também não merecíamos melhor.