1. Um moço de recados do governo, tosco na palavra e pobre no siso, insurge-se um belo dia contra um "entertainer" televisivo;
2. Este, famoso por fazer de Maquiavel um Cândido, demite-se e põe o país supostamente em depressão pelo vazio que provoca nos serões dominicais;
3. A depressão ataca apenas os arautos que a anunciam e de imediato tratam de arranjar culpado a preceito;
4. Afinal o "entertainer", rapidamente transformado em mártir, terá sido forçado a demitir-se por inqualificáveis pressões de forças ocultas, chamem-se elas RTL, licenças para TV digital ou Congresso do PSD;
5. Um grupo gerontocrático de utilidade duvidosa denominado AACS, revela-se um enfastiante protagonista do folhetim durante semanas, ocupando episódios a mostrar os dotes artísticos e declamatórios de figurões, figurinhas e supostos figurantes;
6. Ao fim de tantas e tão exaustivas audições e de uma confusa junção num só dos argumentos dos folhetins Marcelo, Lusomundo/PT e RTP, a AACS decreta "pallissianamente" do cimo da cátedra: o governo é o vilão, viola a liberdade de expressão;
7. Na plateia, há muito que se boceja;
8. No palco o argumento torna-se cada vez mais confuso: discussões sobre contas, benefícios e malafícios fiscais, trocas de papéis entre alguns artistas, substituições de outros artistas de 2ª por figurinhas de 3ª, zangas de comadres e consequente peixeirada, dramatizações à volta da história de um bebé incubado vítima de estalo e pontapé;
9. O justiceiro-mor entra repentinamente em cena e despede os figurantes do parlamento; o vilão continua em palco e enquanto fecha contas, vai já ensaiando o seu futuro papel de vítima; daqui a 6 meses o circo voltará com as mesmas figuras, papéis invertidos e novo colorido;
10. Entretanto a plateia há muito que se esvaziara: futilidades por futilidades, o público vai preferindo as da Quinta.