2.12.04

PORQUE FALHOU A DIREITA?

1. AUTOFAGIA
A direita portuguesa sempre gostou de si própria. Tanto, mas mesmo tanto, que não consegue deixar de se devorar a si mesma. As razões, sempre pessoais, corroem a confiança e expõem as suas personagens a um lamentável espectáculo público: o Antunes não gosta do Zé Manel, que não estima o Joaquim, que o Marcelo não grama, que, por seu lado, não tem a simpatia do Paulo, que é abominado pelo Aníbal, de quem o Alberto diz mal.

2. FALTA DE UM PROJECTO
Para além da redução do défice público, que outra meta apontou o governo de Durão Barroso? Como explicar aos portugueses que a dívida pública é paga, mais tarde ou mais cedo, por eles, com sacrifícios crescentes no tempo? E onde ficaram as célebres reformas da administração pública e do Estado, verdadeiras razões do crescimento do défice? Os sacríficios justificam-se a si mesmos? É evidente que não. Para este efeito, os quatro meses de Santana não contam.

3. COMPREENSÃO INDEVIDA DOS CICLOS ELEITORAIS
A coligação manteve-se fiel ao princípio de que as medidas impopulares se tomam nos dois primeiros anos da legislatura, para, nos dois últimos, em vésperas de eleições, se inaugurarem estradas, pontes, hospitais e se distribuir dinheiro a rodos. Não aprenderam com o segundo governo de Guterres: vivemos, cada vez mais, num ciclo político de «tolerância zero», em que as pessoas, nomeadamente o eleitorado, esgota a paciência com muita facilidade. Hoje em dia, na política, o oxigénio pode acabar a qualquer instante e a estabilidadé governativa já não é o que era.

4. CHOQUES FISCAIS
Em vez do prometido «choque fiscal», os dois governos da coligação aplicaram ao país sucessivos choques fiscais. Só que, estes últimos foram de sentido inverso do prometido. Como, ontem, me disse um velho amigo com fortes ligações a estruturas empresariais, não há memória de um governo que tenha ido tanto e em tão pouco tempo, ao bolso dos portugueses.

5. OS AMIGOS NO PODER
Este foi, de facto, o principal erro de Santana: o governo não pode ser um albergue dos nossos amigos, ainda que eles venham da política. É um velho princípio que, quando desrespeitado, conduz a um problema bem conhecido: as piores zangas são as que temos com os nossos melhores amigos. Em política, isso paga-se muito caro. Como se viu e verá nos próximos meses.