13.12.04

Religião, ciência e liberalismo

Pelo leitor José Barros, recuperdo dos comentários (aqui, aqui e aqui):

Quanto ao post em si [este] não me incomoda enquanto ateu. Incomoda-me, isso sim, por pressupor que a ciência actual desafia minimamente a crença religiosa. Bastava conhecer alguns filósofos como Hilary Putnam ou o Alvin Platinga (um grande defensor do liberalismo) para perceber que pessoas religiosas podem fazer boa ciência e que a ciência não é minimamente incompatível com a religião, como tal filósofos insistentemente afirmam. E que nem os ateus devem ser hiper-sensíveis quando se cita o líder da Opus dei, nem os católicos devem pensar-se como perseguidos pela sociedade ocidental.

O Jefferson, por exemplo, que era um grande liberal, foi também um crente profundo. Poderia dar muitos mais exemplos de pessoas religiosas, católicas e outras, que souberam respeitar o espaço dos outros e que contribuíram mais do que outras para a separação Igreja/Estado. Por que razão é que uma pessoa religiosa não pode respeitar o espaço dos outros e defender a liberdade daqueles de quem discorda e que critica?

O catolicismo tem tanto direito de tentar influenciar as crenças das outras pessoas como qualquer grupo social. Mas deve fazê-lo pela argumentação séria, o que se deve exigir a qualquer grupo social, político ou religioso. Numa sociedade liberal, as liberdades negativas são protegidas, mas há um intenso debate entre grupos sociais que tentam influenciar os valores dominantes. É assim que deve ser. E só assim se evolui. Pelo debate. Sério.


Eu não sei que raio de ideia é que as pessoas têm do liberalismo.
O liberalismo limita-se a exigir das pessoas que respeitem as liberdades negativas das outras pessoas.

Não exige das pessoas que não tenham ideais e que não queiram convencer outras desses mesmos ideais. Bem pelo contrário. A América é uma sociedade liberal (a única) porque cada um defende o que quer e participa no debate cultural, respeitando, ao mesmo tempo, as liberdades negativas dos outros.

Daí que, sim, um religioso verdadeiro pode perfeitamente ser liberal. Pode respeitar as liberdades negativas dos outros e, ao mesmo tempo, achar que estes estão errados e que é preciso convertê-los ao catolicismo ou a outra religião. Desde que o faça pela persuasão e não com a força, pode fazê-lo, respeitando as liberdades negativas dos outros.