O Ricardo Costa escreve no DE um artigo (link abaixo no post do CAA) que dá uma maior visibilidade à discussão sobre liberalismo, que tem sido fortemente esgrimida por aqui e «por aí».
O CAA, e muito bem, linkou o artigo, sem grandes comentários: o artigo fala por si, tem força argumentativa própria.
Embora concorde com a generalidade do que lá está escrito - muito do seu conteúdo alinha com o que fomos escrevendo por aqui ao longo das últimas semanas - existe um aspecto que, à semelhança do que fiz noutros fóruns, penso que merece um tratamento adicional, para que não se criem certos equívocos. Ricardo Costa aparentemente associa - sendo neste aspecto muito bem acompanhado - liberalismo com a adesão à despenalização do aborto e do consumo de drogas, ou a defesa do casamento homossexual.
É que, para mim, ser «liberal» não significa defender que a «solução» para ultrapassar certos «problemas», como a homofobia, ou o consumo de drogas, ou a questão do aborto, passa pela legalização e regulação dos comportamentos morais, os quais, pertencendo à esfera privada, passam a estar padronizados na esfera pública.
Também ser «liberal» não significa enunciar que não se tem «posições dogmáticas» em relação às questões morais - porque são estas que estão em causa quando se acena com a «abertura» de espírito - pois tal não conduz a qualquer resposta a cada uma das questões fundamentais, mas apenas a um vazio moral. E ser liberal não significa ser amoral, ou mero relativista. Coisa distinta é estar aberto à discussão. Mas isso apenas e só merece o epíteto de «pessoa civilizada». Nada mais do que isso.
Muito do liberalismo que por aí existe é reactivo, e assenta na convicção de que, no dia em que a direita for - se o vier mesmo a ser - a favor do aborto, aceitar os casamentos homosexuais, e liberalizar as drogas leves, o BdE «desaparecerá» do mapa.
Eu, pessoalmente, que não estou preocupado com estas questões, sou liberal por convicção, e não por reacção.
E sou liberal, não porque seja contra ou a favor da liberalização das drogas, ou do casamento homossexual, mas porque considero que estas questões dizem respeito apenas esfera privada, não devendo ser objecto de arremesso, limitação política, recriminação social e, muito menos, de regulação e «certificação» estatal. Porque defendo a separação da esfera privada da esfera pública.
Agora, para ser liberal não é necessário ser-se a favor da homossexualidade, como por vezes por aí vemos, ou estar sempre a discutir a essência do charro. Basta aceitar o direito à diferença. Essa, é uma luta cultural e civilizacional. Não legal. É, necessário, sim, ser-se tolerante com as opções sexuais/morais de cada um, percebendo que essa tolerância deve acompanhar-nos na forma como actuamos na esfera pública, com respeito e sentido dos outros. Não é preciso descer a Castelhana, ou a Avenida da Liberdade, abanando uma bandeira com as cores do arco-íris, enquanto ao canto da boca encostamos algo que nos faça sorrir.
Rodrigo Adão da Fonseca