5.7.05

CAPITAL HUMANO



A sagacidade indígena descobriu, de há uns anos a esta parte, que o brilho e a prosperidade dos povos, em suma, a riqueza das nações, residem no «capital humano».
Ora, como somos um país subdesenvolvido, invariavelmente situado na cauda da Europa, antes ou depois da adesão às Comunidades, a doze, a quinze, a vinte e cinco, ou a quantos mais vierem, também se concluiu há muito que o nosso problema era a «educação», ou melhor, a falta dela.
Pois se, como é recorrente dizer-se, o português é tão bom ou melhor do que os outros em qualquer parte do mundo, só não o será em Portugal por falta de cultura, educação e do «saber fazer», sobretudo daquele que ainda se aprende e predomina nos manuais universitários, as célebres sebentas geradas na Reforma Pombalina da Universidade, de 1772, e no famoso «método sintético-histórico-compendiário» que ela impôs à Academia.
Já na parte final do século passado, por amor à educação e à formação académico-laboratorial do nosso «capital humano», o Estado português gastou dinheiro a rodos para o formar nas suas Universidades. O Engº Guterres, nessa matéria exemplar, manifestou sobre a educação uma infinita paixão, no que fora precedido e foi sucedido por todos os governantes deste país.
Curiosamente, esta paixão tão cara de sustentar, como quase todas o são, não só não nos tirou da famigerada «cauda», como gerou o paradoxo de sermos o país comunitário com maior desemprego de licenciados e com a menor percentagem de formação universitária. Concluem os «especialistas» que, obviamente, a educação é ainda deficitária, o que significa em português vulgar que é necessário gastar mais dinheiro com ela.
Parece, pois, não ter ainda ocorrido a ninguém que a fraqueza do nosso «capital humano» tenha a ver com a fraqueza intrínseca do país. E que esta se tem agravado porque o Estado subsiste em cobrar-nos o que temos e o que não temos para nos prestar inestimáveis serviços, como, por exemplo, educar-nos para brilhantes carreiras no desemprego. Como nos contiuamos a recusar assumir que o que origina a prosperidade das comunidades é, no essencial, o talento individual e a sua aplicação e transformação em trabalho. Trabalho que é estimulado na mira do lucro, na possibilidade das pessoas conservarem o que é seu, se possível investirem-no e, com o resultado do seu trabalho e do seu investimento, gerarem mais investimento e mais trabalho, isto é, riqueza. A educação e a cultura, como quaisquer outros bens de consumo, virão por acréscimo e por necessidade complementar de quem quer, e pode, progredir.
Em poucas palavras, se quem nos governa quer apostar no «capital humano», talvez fosse bem pensado deixar que os humanos que aqui trabalham possam conservar o seu capital.