21.7.05

Causas e efeitos

Facto: Campos e Cunha pôs totalmente em causa o programa do governo com o seu artigo no Público. Sócrates não tinha outra hipótese senão demiti-lo, mantendo uma coerência com impacto ruinoso no orçamento e protelando o conceito que em breve todo o país fará dele: um palhaço teimoso, presunçoso e ignorante.

Obviamente que também pesaram as pressões do aparelho socialista. Este encontra-se à beira de um ataque de nervos com a perspectiva de uma cada vez mais certa derrota nas autárquicas, a obrigar Jorge Coelho a desdobrar-se por todo o país, vomitando demagogia e agitando freneticamente a cenoura do betão, sinónimo, para o partido profundo, de jobs e financiamentos.

Vem mais uma vez ao de cima uma das principais fragilidades do nosso regime: o poder efectivo não reside no Parlamento nem no governo, por clara que seja a maioria sufragada, mas na mediocridade boçal dos aparelhos partidários, infestados de figurões e figurinhas eleitos por algumas centenas de votos comandados por sindicatos de interesses, para quem é vital a torneira do orçamento.

Com a exoneração de Campos e Cunha, vencem as teses mais intervencionistas e dirigistas. Vai prevalecer o gigantismo de Cravinho, executado de forma autómata por Mário Lino e pago por Teixeira dos Santos, um antigo marxista e agora keynesiano recauchutado. Diga-se que a escolha deste era a única possível. Constâncio seria a única pessoa do PS com credibilidade para o cargo, mas tem um ego assaz elevado para aceitar ser ministro de Sócrates. Tirando Teixeira dos Santos, que terá recusado uma secretaria de estado aquando da formação do governo, as opções de Sócrates ficariam reduzidas a Perez "Delgado" Metelo...

Daqui a algumas horas os mercados financeiros vão abrir com algum nervosismo e, se anteciparem o crescimento do despesismo, assistiremos à queda generalizada da Bolsa. Não será factor de acalmia que o novo ministro seja o ex-presidente da CMVM. Mas, mais importante que as oscilações bolsistas, é a confiança dos agentes económicos, que ficará ainda mais abalada. E a nossa credibilidade exterior estará mais uma vez em perda, o que provocará a prazo novo downgrade no rating do país.

Está visto, vamos entrar no tempo das vacas esqueléticas.