5.7.05

CHEFIAS E CONHECIMENTOS DE INFORMÁTICA

Relatos vindos ou não a público dão conta que pessoas colocadas em posições elevadas, em vários tipos de organizações, não sabem manejar computadores. Dada a enorme importância que os meios informáticos hoje detêm, nas mais variadas áreas, pode constituir fonte de dúvidas a circunstância de poder haver pessoas em posições cimeiras que não dominem uma ferramenta por muitos considerada indispensável.

O problema poderá ser dotado de particular importância ao nível da administração pública, na qual algumas posições são atribuídas a nível vitalício, sendo que a carreira de muitas pessoas poderá ter registado a fase de formação e de progressão antes do advento generalizado dos computadores pessoais, o qual ocorreu, como é sabido, no final da década de 1980. Pode acontecer que existam instâncias da administração pública nas quais nenhum dos eventuais candidatos a uma posição de chefia saiba trabalhar com computadores.

A informática diminuiu drasticamente os erros ortográficos, facilitou de forma extraordinária as apresentações em público, tornou cálculos complexos, designadamente estatísticos, passíveis de serem realizados em poucos segundos, e tornou obsoletos os erros de cálculo. Mais do que isso, tornou possível a milhões de pessoas com relativamente escassa preparação fazer tudo isso, e muito mais. Hoje, podem admitir-se erros na introdução de dados numa folha de cálculo, mas não se admitem erros no cálculo propriamente dito, uma vez que os computadores, por norma, não erram. A tecnologia pré-informática está com frequência, quer queiramos quer não, obsoleta.

Será o domínio mínimo da informática indispensável para a chefia dos dias de hoje? Em muitos casos, talvez a resposta seja positiva. Noutros casos, em organizações suficientemente grandes para poder pagar a uma pessoa para fazer o trabalho informático de outra, provavelmente a resposta poderá, em alguns casos, ser negativa, uma vez que pode haver pessoas sem quaisquer conhecimentos de informática que constituam, por si sós, mais-valias extremamente importantes, ou mesmo decisivas. Poderá pensar-se que se trata de mais um exemplo da desejável divisão do trabalho, e que a pessoa que ocupa a chefia poderá não saber trabalhar com computadores, mas que tal não será importante se os chefiados, ou pelo menos parte deles, o souberem fazer.

A necessária actualização tecnológica, que se verifica em todos os países e a todos os níveis, e que se processa actualmente a um ritmo acelerado, se não deverá, idealmente, levar a excessos, poderá, em todo o caso, tender a inclinar a balança no sentido de uma mais rápida substituição de gerações nas chefias (sendo as "gerações", neste contexto, entendidas não apenas no aspecto etário). Talvez, na perspectiva das organizações, mais ainda do que nos chefiados, seja em quem chefia que mais se faz sentir a necessidade de actualização tecnológica.

José Pedro Lopes Nunes