19.7.05

D. Quixote e os moínhos de vento

À Filipa Correia Pinto, com amizade e votos de rápida recuperação (convém ler antes o que FCP escreveu aqui):

Certo dia, D. Quixote e Sancho Pança chegaram a um local onde estariam aí uns trinta ou quarenta moínhos de vento. Pelo menos, eram moínhos o que o pobre Pança via. D. Quixote, esse, encarou o seu escudeiro e disse-lhe: «Vou combater esses míseros gigantes». Sancho, boquiaberto, pediu ao D. Quixote que olhasse bem, que não eram gigantes mas simplesmente moínhos de vento. D. Quixote ignorou, pois só pensava na sua deusa, sua séria e íntegra Dulcinéia de Toboso, a quem dedicava a sua aventura: de lança em riste, atacou o primeiro moínho. Esse, impávido e sereno, limitou-se a cumprir a sua função, arremessando-o para bem longe. Sancho foi em seu auxílio, voltando a repetir: «eu bem lhe disse que eram moínhos de vento». D. Quixote, ainda perturbado, respondeu-lhe que Sancho não via o que se tinha passado, que tinha sido Frestão, esse malandro, quem tinha transformado os gigantes em moínhos.

Através deste breve relato da Batalha dos Moínhos de Vento, podemos ver com clareza o ponto de alienação a que chegou D. Quixote. D. Quixote estava de tal forma a viajar naquele mundo irreal, a sua lealdade a Dulcinéia leva-o aos maiores delírios, ao ponto de ver gigantes onde apenas havia moínhos.

Filipa,

O Blasfémias é apenas um blog onde algumas pessoas, uns descontraidamente, outros mais contraídos, é certo, escrevem sobre Liberalismo. Podemos ser, como bem dizes, uns «pseudo puristas sectários», uma «banda de garagem», mas com franqueza, Filipa, nenhum de nós «quer mandar», nenhum de nós «se furta às regras democráticas», porque, pura e simplesmente, nós somos «moínhos de vento», não vamos a lado nenhum. Não somos importantes, e ninguém importante nos acompanha. Somos o que somos, e vivemos bem assim.

Deixamos essa tentativa de mudar o mundo, para ti e para esses tais «outros apenas motivados pelas suas legítimas e saudáveis convicções políticas e cívicas», as tuas Dulcinéias. Pena que a história, em geral, confirme que os D. Quixotes, quando ganham as tais eleições de que falas, normalmente nessa fase prefiram a companhia do Frestão. Até porque a Dulcinéia, embora princesa, não gosta de governar.

O que, estou certo, não vai ser o teu caso, em quem deposito as maiores esperanças!

Como dizem os brasileiros, «pega leve»! Não é caso para tanto!

Rodrigo Adão da Fonseca