11.7.05

Leituras: On bullshit.




"Bullshit is unavoidable whenever circumstances require someone to talk without knowing what he is talking about."
Harry G. Frankfurt.
Publicado em 2005 pela Princeton University Press, "On Bullshit" é uma obra de Harry G. Frankfurt, professor de Filosofia na Universidade que dá o nome à editora. "On Bullshit" é um curto ensaio apresentado sob a forma de um pequeno livro.

Frankfurt começa por referir que a sua análise tem, em alguma medida, um cariz exploratório, dada a relativa escassez de fontes bibliográficas sobre o tópico. Para o autor, bullshit é distinto de uma mentira, mas pode, sem qualquer dúvida, conter uma misrepresentation da verdade.

O fim em vista, para Frankfurt, não será sempre o de induzir alguém a formar uma opinião sobre o tópico em causa, podendo, em alguns casos, o fim em vista ser uma alteração da opinião sobre quem fala e não sobre o que diz. A publicidade, as relações públicas e a política estariam, segundo o autor, entre as actividades que poderiam fazer uso desta forma de comunicar (pág. 22).

Para o autor, a essência do bullshit consiste numa "lack of connection to a concern with true" (pág. 33), ou seja, não existe a preocupação com a verdade, tal como não existe necessariamente interesse em afirmar a falsidade.

Aspectos da vida dotados de forte carga emocional (e.g. religião, política, ou sexo) constituiriam temas adequados para uma bull session, ocasião com a virtualidade de dispensar a pessoa de revelar os seus verdadeiros pensamentos (pág. 36).
O bullshit, para Frankfurt, não seria verdadeiramente uma falsidade, mas seria em alguma medida uma falsificação, o que implica que "it need not be false" (pág. 48). Para o autor, as consequências decorrentes do bullshit e da mentira ostensiva poderão ser diferentes, sendo este um ponto a ter em conta.
Na parte final da obra, Frankfurt interroga-se porque existe tanto bullshit, adiantando a resposta, segundo a qual "Bullshit is unavoidable whenever circumstances require someone to talk without knowing what he is talking about" (pág. 63), mas incluindo também nas causas do fenómeno a influência de escolas de pensamento baseadas no cepticismo.

Como comentário, diríamos que a questão da veracidade da mensagem transmitida por uma pessoa é uma questão cada vez mais actual, dada a complexidade crescente da sociedade humana. Com excessiva frequência, é contrário ao interesse da pessoa tornar claro o seu verdadeiro pensamento, ou tornar público o conhecimento de determinados dados.

Embora algumas pessoas optem pela linguagem da mentira, ou seja, afirmem peremptoriamente inverdades, essa opção faz correr o risco de uma quebra definitiva da credibilidade de quem fala, junto de quem ouve. Terá sido nesse contexto que se generalizou o uso de bullshit, uma modalidade na qual, por não se assumir a veracidade do que se diz, não existe uma tão grande perda de credibilidade pela falta de conexão com a verdade.

José Pedro Lopes Nunes