15.7.05

OS ERROS DE ASSIS (1)

"E era possível que tudo fosse diferente, quer de um lado, quer do outro. Podia-se ter rompido com o passado e encontrado gente com carácter e honestidade para impor o Porto pelo Porto. Se as direcções partidárias locais tivessem sabido vencer as suas estéreis questiúnculas internas. Podia ter renascido a esperança para o Porto se os candidatos fossem, por exemplo, Francisco Assis e Rui Rio"

Carlos de Abreu Amorim, Semanário, 06.04.2001


(ver aqui) Para quem seguiu atentamente a última campanha autárquica do Porto torna-se bastante curiosa, quase cómica, a constatação de que muitas das críticas que hoje estão a ser arremessadas a Francisco Assis são precisamente as mesmas apreciações que, há 3 anos e meio, eram feitas a propósito de Rui Rio.
Então, Rui Rio era alguém «sem perfil», «sem «carisma», desligado da vida autárquica, que não sabia «passar a mensagem», que não se inseria devidamente junto das «forças vivas da cidade», desprovido de «ideias mobilizadoras», sem «desígnio» e por aí adiante. Hoje este tipo de censuras são desferidas contra Francisco Assis, muitas vezes pelas mesmas pessoas que sentenciavam Rui Rio à fatalidade de «ir cumprir calendário» nas eleições de 16 de Dezembro de 2001.
Há, de facto, algumas semelhanças entre o Rui Rio de 2001 e o actual Francisco Assis:

  • Ambos sofreram fortíssimas resistências dos respectivos aparelhos partidários;
  • Ambos tiveram a concorrência interna de adversários que a imprensa guindava à condição de «vencedores antecipados»;
  • Ambos recusam (para já...) a tão exaltada (e decadente) praxe portuense de ir pedir a bênção eleitoral aos senhores do futebol;
  • Ambos experimentam quotidianamente ataques demolidores e a tresandar a "encomendado" por parte da comunicação social local;
  • Ambos constituíram uma «desilusão» para os «agentes culturais» e para os promotores imobiliários (a associação destas duas classes de interesses apenas pode surgir como estranha na aparência);
  • Ambos têm a reputação de honestidade pessoal e pretendem transportar essa característica para a actividade política em geral.

A primeira fragilidade de Francisco Assis neste combate resulta da intuitiva sensação do eleitor comum de que está perante um sósia político do actual presidente da câmara do Porto. Que Assis não poderá trazer mudança porque ele próprio só é candidato mediante o ar fresco, apartado dos interesses imobiliários e desfutebilizado, que Rui Rio aportou na política autárquica.
Mas, ao contrário da opinião comum dos comentadores, julgo que o Porto está de parabéns com estes dois candidatos. Na verdade, subiu-se um enorme degrau na credibilidade da política autárquica. Basta recordarmo-nos que nos princípios de 2001, antes ainda da surpresa da candidatura de Rui Rio, quem se perfilava para disputar o município portuense era gente da estirpe de Nuno Cardoso, Luís Filipe Menezes, Fernando Gomes, Narciso Miranda e Valentim Loureiro. Hoje, muito mudou e para melhor.

(continua)