Ontem, o mundo acordou novamente para a ameaça terrorista. Londres, que na véspera tinha adormecido acompanhada do sonho olímpico, vive hoje o sabor amargo da realidade.
Depois do choque, as pessoas começam a procurar as razões do ocorrido, bem como soluções para o futuro.
A natureza humana é complexa, e um jovem - em qualquer lado do mundo - tanto pode amar o Bem como idolatrar o Mal. Todos nós temos personalidades ambivalentes, e moldamos o nosso modo de estar e ser em constante interacção com a própria realidade, com o respectivo contexto pessoal. Tal não desresponsabiliza os actos criminosos, que resultam de opções individuais, mas ajuda a compreender o que pode levar jovens, muitos com formação académica, a assumirem tamanha irracionalidade, imolando-se com bombas, inflamados de ódio para com um modelo de civilização que, no fundo, acho que gostariam que fosse o seu.
No mundo islâmico (e não só, fora do Ocidente) não é fácil ser-se jovem: dificilmente o seu campo de afirmação é semelhante ao que qualquer um de nós dispõe numa sociedade ocidental. Em certas zonas do Médio Oriente, os jovens têm demasiado tempo para pensar na Religião, e poucas possibilidades de empreenderem iniciativa próprias, criarem riqueza, ter um modo de vida propício a cultivar o amor pela Paz.
Numa sociedade onde a Liberdade tem dificuldade em consolidar-se, e a iniciativa individual não encontra campo de afirmação, encontramos o terreno mais fértil para a disseminação do Ódio, corporizado em grupos radicais e suportado em ideologias que mais não são que deturpações da Religião.
O Terrorismo e o Ódio estão aí, e vão durar.
O Ocidente, para voltar a viver em Paz, terá de compreender que o mundo islâmico, e todos os países emergentes, aspiram a crescer. Esses países, com uma estrutura demográfica muito jovem, vivem como que numa panela de pressão: é preciso permitir que toda essa energia seja canalizada, não para fabricar ódios, mas para o crescimento económico e para a criação de uma sociedade civil bem formada. E não vale a pena pensar que é possível ter paz sem liberdade, e liberdade sem crescimento económico.
Não é de Live Eights, nem sequer da nossa compaixão e caridade que os países pobres e emergentes necessitam; tais iniciativas servem apenas para que, depois de ver as imagens da fome e da miséria, possamos acalmar as nossas consciências e dormir um pouco melhor; o que os asfixia é o proteccionismo económico, que serve só para defender os nossos egoísmos, «o nosso modo de vida» e o nosso tão superior «Estado Social», aniquilando a iniciativa e a possibilidade de, noutras zonas do globo, ser criada riqueza. De que adianta «cantar», se continuamos a negar a esses povos a possibilidade de se desenvolverem, seguindo regras de comércio justas? O proteccionismo e as barreiras à circulação de pessoas e mercadorias destroem a coesão social à escala global, e são fonte de injustiça, conduzindo ao ódio, ao ressentimento, à intolerância, ao fanatismo religioso, à exploração dos homens, à aniquilação da Liberdade.
Eu acredito no potencial da iniciativa económica, na sua capacidade de fazer nascer as liberdades e absorver de uma forma positiva as energias e o génio inventivo de jovens, que são como eu - como nós - mas que tiveram o azar de nascer no lado errado do planeta.
No contexto cínico, depressivo, egoísta e catastrofista em que vivemos, o que aqui escrevo certamente será considerado um lirismo ou, no mínimo, um mero acto de Fé. Mas não foram a Revolução Industrial e o crescimento económico subsequente as fontes do nosso progresso e os pressupostos da afirmação das nossas Liberdades?
Podem culpar Bush, Blair, Bin Laden, as empresas multinacionais, os lobis do petróleo e do armamento, os judeus, os israelitas, a Religião, os Estados Párias, a CIA, o KGB, os ditadores africanos, os mullahs e mudjahedins.
Mas a todos, sobretudo aos mais jovens, pergunto: o que fariam se no vosso leque de opções de realização não existissem tarefas úteis que vos preenchessem do ponto de vista pessoal? Idolatravam o Ocidente, ou vendiam a alma a um falso Alá?
Os terroristas são perigosos criminosos, que hipotecaram as suas vidas e as suas almas ao Ódio e ao Mal. Se queremos poder viver no futuro num mundo mais seguro - nem que seja só por isso - será bom começar a perceber que o Bem dificilmente se afirma onde não há Liberdade.
Rodrigo Adão da Fonseca