21.3.06

Harvard, muito mais do que uma meritocracia

Paulo Pedroso tem razão quando sugere que o mercado não produz universidades puramente meritocráticas. Devo dizer que as quotas são mais evidentes do que o texto de Paulo Pedroso sugere. As universidades privadas americanas possuem várias vias de acesso, de modo que os gestores da universidade podem calibrar a população estudantil de acordo com os interesses da instituição. Por exemplo, elas podem captar os bons alunos através de um sistema de isenção de propinas e os alunos ricos com boas ligações sociais aumentando as propinas.
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A minha abordagem simplificada neste post pretendia apenas chamar a atenção para o facto de o desejo do lucro não levar as universidades privadas a descurar os critérios de mérito. Antes pelo contrário. São os factores económicos que levam a que tenha critérios de mérito em conta porque o valor das propinas que uma universidade pode cobrar depende desses critérios. Mas dado que uma universidade não é apenas uma agência certificadora, um gestor preocupado com a reputação da sua universidade e com a qualidade do serviço fornecido, factores dos quais depende o lucro, terá que ter em conta outros critérios para além do mérito académico.

Uma universidade desempenha o triplo papel de clube social, escola e agência certificadora. Se a universidade fosse apenas uma agência certificadora só entrariam nerds sem competências ou contactos sociais. Se fosse apenas uma escola, atraíria apenas aqueles que estivessem interessados em aprender algumas coisa. Se fosse apenas um clube social atraíria apenas playboys e meninas glamorosas. Como são tudo isto, as universidades são mercados em que as pessoas de diferentes origens sociais trocam os seus talentos umas com as outras. Os ricos contribuem com as propinas, com doações e com as ligações sociais e beneficiam do prestígio académico. Os nerds contribuem para o prestígio académico e benefíciam das ligações sociais e da qualidade do ensino. E os desportistas contribuem para a popularidade da universidade recebendo em troca ligações sociais e qualidade de ensino.

Universidades como a de Harvard são muito mais do que meras meritocracias. Se fossem apenas meritocracias, o valor fornecido aos estudantes seria muito inferior aquele que realmente é fornecido. Em primeiro lugar, não haveria financiamento para pagar a qualidade de ensino que se pratica. Em segundo lugar, os estudantes mais pobres não teriam acesso a uma rede de contactos sociais fundamentais para o desenvolvimento da sua actividade profissional futura. E em terceiro lugar, os nerds não teriam oportunidade de conhecer as meninas glamorosas e as nerds não teriam a oportunidade de conhecer o capitão da equipa de futebol.

Então qual é o mistério da Universidade de Harvard? O lucro, isto é, o desejo de acumular valor e prestígio, leva os seus responsáveis a criar uma instituição de excelência perfeitamente adaptada à realidade da vida que é muito mais do que uma mera meritocracia.