É muito engraçado o espírito de barricada com que certos cientistas reagem à questão do criacionismo. Pressupõem logo que o criacionismo não é um assunto intelecualmente sério, apesar da longa história de debates sérios sobre o assunto. Por um lado, reagem com ataques pessoais do género "aposto que também acreditas na verdade literal da bíblia" ou "deves ser ignorante" ou "deves ser da Universidade de Coimbra" (o espírito de capelinha que por aí vai). Por outro, reagem redefinindo ciência de modo a que a definição inclua apenas a área científica do próprio.
Assim:
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- ciência é a procura de causas naturais para fenómenos naturais, o que exclui a teoria das cordas e outras similares que cheguem a soluções metafísicas para fenómenos naturais, bem como teorias altamente especulativas que se dedicam ao estudo de universos imaginários (ou seja, estudos que procuram soluções metafísicas para problemas metafísicos);
- a ciência tem que ser falsificável, o que exclui todo o conhecimento sintético a priori e todas as ciências históricas, incluindo a própria teoria da evolução. Mais, história, arqueologia e a paleontologia não são ciências;
- toda a ciência é empírica, o que exclui o uso de argumentos teóricos para interpretar os dados, como por exemplo o uso do princípio da Selecção Natural em biologia para relacionar dados genéticos. Tudo teria que ser obtido experimentalmente incluindo a teoria metafísica usada para conceber as experiências e interpretar os resultados. O uso da razão para interpretar o mundo estaria vedado aos cientistas;
- uma teoria científica tem que fazer previsões verificáveis, o que implica que todas as teorias que defendem que em determinadas áreas do conhecimento não é possível fazer previsões (caos, princípio da incerteza) não são científicas (uma previsão negativa não é verificável).
- a matemática e a geometria não são ciência nem nada que se pareça, mas apenas uma mera linguagem. Isto implica que o próprio princípio da selecção, que na verdade não passa de um teorema matemático, não é ciência mas apenas uma mera linguagem. Ah, e estudos numéricos também não são ciência (eu já suspeitava, tendo em conta as simulações que se fazem a propósito do aquecimento global).
Conclusão: este é o lindo estado em que se encontra a cultura científica, o que também não é grande problema tendo em conta que 99% daquilo que os cientistas fazem afinal não é ciência.