Na verdade já vi tempos de antena piores. Há quem pense que é um documentário sobre o aquecimento global, mas na verdade trata-se de um filme cujo objectivo é exibir o ego e a auto-estima de Al Gore. O filme é Gore e mais Gore e mais Gore. Acho que muitos portugueses que viram o filme vão votar no homem.
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Quanto à ciência, o filme recorre aos truques habituais. Tirando 5 minutos de dados objectivos sobre a evolução do CO2, durante os quais vamos sabendo onde esteve o Senador Gore ao longo dos anos (desde os anos 60), o resto é desinformação. Foram apresentados dados de temperatura escolhidos de forma a dar a impressão que a subida no século XX é mais pronunciada que a indicada por outras séries temporais. Foi usado um truque gráfico para minimizar o "Medieval Warming Period". Foram escolhidas as hipóteses mais catastróficas que se podem imaginar neste momento, o degelo da Groenlândia e da Antárctida. Não faltou a paragem da corrente do golfo em consequência de uma hipotética descarga de água doce vinda de um gigantesco e hipotético lago na Groenlândia*. Hipóteses que estão por demonstrar e que são puramente especulativas. Foi apresentada uma simulação em que se mostrava a inundação das zonas costeiras como consequência desse degelo. Não faltou a insinuação de que o Katrina foi causado pelo aquecimento global, com imagens de Nova Orleães.
Soluções, nenhumas, para além da redução das emissões CO2 dos EUA até aos níveis previstos por Kyoto. Uma gota no oceano, tendo em conta a dimensão que segundo Gore o problema tem. Sobre as emissões dos países emergentes, que dominarão as emissões de CO2 dentro de 20 anos, nada. Nenhuma solução, nem sequer uma menção do problema. No final, um apelo ao voluntarismo do espectador convidando-o a reduzir as suas emissões de CO2 a zero (o filme está em exibição num shopping da periferia para onde todos vão de carro). Durante o filme pudemos ver Al Gore no carro, Al Gore no aeroporto, Al Gore usando o seu portátil, Al Gore na China, Al Gore falando da sua viagem ao Pólo Norte ...
* É curioso que num momento do filme Gore está a falar de um aumento de 12 graus da temperatura no pólo Norte e no momento seguinte está a falar de uma nova idade do gelo na Europa.