Em relação a Ribeiro e Castro sinto uma reacção semelhante à que, por vezes, tenho por George W. Bush, mutatis mutandis - não simpatizo especialmente com a figura, mas os ataques injustos e perniciosos com que os seus detractores permanentemente o obsequeiam quase que me levam a defendê-lo. Em política, como em tudo o mais, a intrínseca aleivosia de quem ataca provoca um insuspeito e não-querido impulso de estima pela "vítima".
Ribeiro e Castro ganhou um Congresso de surpresa e contra o que estava "combinado". «Foi "falta", não valeu» gritaram os favoritos. O homem aguentou todas as tropelias, os desmandos mais inconcebíveis por parte do bando que se resguarda no grupo parlamentar. Atordoado, fez novo Congresso menos de um ano após o primeiro. Voltou a ganhar. Pensou-se que as coisas serenariam um pouco. Mas não, tudo se repetiu impavidamente. Hoje mesmo, Pires de Lima (Público, p. 12 e DN) exige um novo Congresso clarificador. O anterior foi em Maio passado...
Mas a grande curiosidade que as declarações de Pires de Lima comportam está na ordem de prioridades para a liderança que enuncia para esse tal Congresso. A saber:
1. Paulo Portas;
2. Maria José Nogueira Pinto;
3. Nuno Melo;
4. João Almeida.
Vamos supor, por breves instantes, que este naipe é para ser levado a sério. ###
Portas regressa quando quiser. E como quiser. Basta exprimir a sombra de um desejo e o partido, que é seu, abrirá os braços, agradecido e aliviado. Não precisa de um arauto que dê "arraiais" por antecipação. Pelo contrário.
MJNP já provou que não tem vocação para ser líder. Atingiu o limite das suas capacidades partidárias enquanto voz de Cassandra para o interior do partido. Outras vezes, demasiadas, como "voz de serviço". É um quadro, uma referência do CDS no activo - o que é muito num partido que adora desbaratar o seu capital humano. Terá atingido o seu limite "de Peter". Mas, para mais do que isso, não há Misericórdia que lhe possa valer.
Os outros dois nomes devem-nos fazer pensar bastante. Não pelas suas putativas qualidades de liderança eventual. Mas pelo despautério da sua nomeação. Neste momento, desta maneira e por quem a faz.
Evidentemente que não são hipóteses para levar a sério - o que é diferente de se dizer que não teriam condições de vencer um Congresso. Mas seria uma gargalhada espontânea de Norte a Sul do país (arquipélagos atlânticos incluídos). E essa risota inevitável seria provavelmente fatal para o CDS.
É isso que Pires de Lima pretende? Não o creio.
Mas, note-se, não nomeou Telmo Correia. Nem António Lobo Xavier. Duas alternativas desmesuradamente mais credíveis do que as 3 últimas. E se a disponibilidade destes dirigentes parece não ser a melhor para tais aventuras, também Paulo Portas tem asseverado coisa semelhante. Talvez pelas dificuldades que o Rui aduziu.
Resta um nome óbvio: o do próprio fazedor de lideranças a haver, Pires de Lima.
Realmente, no deserto intelectual e político que é a oposição interna a Ribeiro e Castro, de entre todos os nomes "presidenciáveis" há um que se destaca por estar constantemente a "chover no molhado", a exigir compulsivamente a realização de novos Congressos mal estes terminam, a atacar o líder eleito pelo que disse e não disse, pelo que fez e deixou de fazer: o omnipresente Dr. Pires de Lima.
Mais coerente e honesto, julgo, seria que ele próprio se candidatasse de uma vez por todas em vez de endereçar "empurrões para cima" aos comparsas, via jornal.
Quem tanto aponta os demais para um lugar cimeiro, normalmente pretende-o para si mesmo.