«Iguais a nascer, iguais a morrer
Novo cemitério da Póvoa de Varzim muda paradigma no culto dos mortos
Câmara impõe minimalismo estético, com jazigos estilizados para acabar com "decorações excessivas", assume o vereador
O novo cemitério municipal vai provocar uma alteração radical à forma como os habitantes da Póvoa de Varzim manifestam o seu culto pelos mortos, uma vez que os jazigos vão deixar de ser decorados de acordo com o gosto dos familiares do falecido. Por imposição da câmara, todos serão cobertos de forma idêntica "estilizada" - uma lápide com a menção ao morto e um jarro para flores - variando apenas a possibilidade, para os enterramentos católicos, de ser colocada uma cruz à cabeceira.###
Quem passa no IC1/A28 depara, a nascente da via, e já bem perto do acesso à cidade, com um novo espaço pontuado de lajes de pedra entre espaços verdes, um sóbrio edifício de apoio e algumas árvores à espera de crescer. Um olhar mais atento permite adivinhar um cemitério.
O vereador com o pelouro das Obras Municipais, Aires Pereira, explicou ao PÚBLICO que o conceito que a autarquia quis que estivesse presente no novo equipamento foi baseado numa frase: «Iguais a nascer, iguais a morrer». A partir deste pressuposto, o desenho do espaço teve em conta a «sobriedade que um cemitério deve ter», defende Aires Pereira, que, no entanto, tem consciência de que a exigência da câmara quanto ao tipo de decoração poderá, no início, gerar alguma controvérsia. O autarca está convencido, porém, que «as pessoas vão compreender o alcance» da medida, até porque, no cemitério actual, há casos de ocupação excessiva do topo das campas com artefactos de todas as cores e feitios.
Aires Pereira adiantou que o grosso do empreendimento (nesta primeira fase), que custou 1,9 milhões de euros, «está pronto», devendo entrar em funcionamento no início de Fevereiro. Até lá, serão completadas as áreas ajardinadas e um espelho de água, colocados bancos e iluminação apropriada, peças que «são essenciais» para fazer do espaço um «local de recolhimento e de reflexão, para além da sua função natural», os enterramentos.»
Esta notícia do caderno Local Lisboa do PÚBLICO é um caso que merece estudo. Em primeiro lugar temos aquela extraordinária presunção de que o culto dos morto muda por disposição camarária, em segundo o ódio aos gostos populares e em terceiro esta totalitarissima concepção da vida e da morte. De facto não somos iguais, não temos gostos iguais, não temos vidas iguais. Existem campas que são verdadeiros festivais de quinquilharia, existem campas abandonadas, existem campas com inscrições extraordinárias, existem jazigos lindissimos e outros horrendos... Mas tudo será melhor do que esta visão tipo «Querido Líder» de como nos devemos comportar. Também vão medir as lágrimas? Os choros? O número de acompanhantes? As flores?... Enfim se é para se ser rigorosamente igual há que pensar em tudo.