25.1.07

economia do aborto


Para uma mulher, o principal custo de ter um filho é um custo de oportunidade - a penalização sobre a sua carreira profissional e, no limite, a renúncia a uma carreira profissional e aos rendimentos que daí resultariam.###

Ter um filho, para uma mulher que tem uma profissão, implica ter de empregar uma pessoa que tome conta dele e ficar ausente do trabalho durante vários meses, perdendo relevância e oportunidades de promoção, para além das faltas que passará a incorrer para levar o filho ao médico ou ficar em casa quando ele está doente. Não é um custo insuportável. Se tiver um segundo filho, a sua situação profissional vai complicar-se, aproximando a fronteira da inviabilidade. Se tiver ainda mais um - o terceiro - é praticamente certo que ela terá de ficar em casa e renunciar à sua carreira e vencimentos durante um certo número de anos.

Para uma mulher que já esteja em casa, este custo de renúncia é zero; para outra que ganhe o salário mínimo, este custo é o salário mínimo; para outra que ganhe dois mil euros por mês o custo é de dois mil euros por mês. Em termos desta componente do custo, ter um filho é tanto mais caro quanto maior fôr o rendimento de uma mulher. Por isso, uma mulher da classe média é uma consumidora muito mais intensa dos métodos de controlo dos nascimentos - incluindo o aborto - do que uma mulher pobre.

Visto de outro ângulo, uma família pobre tende a ver num filho um activo líquido - ele começará a trabalhar ainda adolescente e a contribuir para o rendimento do agregado familar e, um dia, será ele e os irmãos que sustentarão os pais na velhice, enquanto que o custo de o ter se reduz à alimentação e pouco mais. Pelo contrário, para um casal da classe média que não tenciona pôr o filho a trabalhar aos 16 anos e muitos menos conta com ele para lhe financiar a velhice, um filho representa sobretudo um custos adicional - como aquele que foi mencionado acima - e, portanto um passivo líquido.

Não é de mais insistir: as principais consumidoras de métodos de controlo dos nascimentos - incluindo o aborto - são as mulheres da classe média, não as mulheres pobres. A taxa máxima de abortamento numa sociedade verifica-se entre as mulheres da classe média e a mínima entre as mulheres da classe baixa. (As mulheres da classe mais elevada, por razões que não tratarei aqui, tendem a possuir uma taxa de abortamento também baixa).

O argumento do "aborto de vão-de-escada" que tem sido utilizado na presente campanha sobre o referendo, em que se imagina uma mulher pobre a abortar em condições miseráveis, só é chocante porque é uma raridade. A esmagadora maioria dos abortos são feitos por mulheres da classe média e estas podem pagar um local mais confortável e seguro do que o "vão-de escada", embora isso lhes custe.

Por isso, a gratuitidade do aborto que resultará do Sim ao referendo é no interesse sobretudo das mulheres da classe média e dos seus parceiros - jamais no interesse generalizado das mulheres da classe mais pobre do país. Primeiro, porque as mulheres pobres raramente recorrem ao aborto. Segundo, porque sendo as mulheres pobres que produzem mais filhos, são os filhos delas que, em número crescente como contribuintes, vão pagar os abortos à classe média do país.