26.1.07

a relação mais intensa


Dentre toda as relações que se estabelecem entre dois seres humanos - entre irmãos, amigos, colegas de trabalho, pais e filhos, marido e mulher, tio e sobrinho, patrão e empregado, entre namorados, avós e netos, etc. - a mais intensa de todas, a grande distância de todas as outras, é a relação entre mãe e filho.###

Esta é a mais duradoura de todas as relações humanas e a única que dura para a vida inteira - a relação entre pai e filho ocupando um distante segundo lugar. Quanto às relações entre namorados e entre conjuges, a despeito das promessas de amor eterno, nós sabemos como elas se esfumam, frequentemente, ao fim de poucos anos.

Quando um homem - provavelmente por ter cometido um crime hediondo e jazendo na prisão para o resto da sua vida - tiver sido abandonado por todos, amigos, colegas de trabalho, namorada ou mulher, irmãos, pelo pai até, nós podemos estar certos que aquela velhinha que cruza as portas da prisão para visitar tão desprezível ser humano só pode ser uma pessoa - a mãe dele.

Este é o mais a-racional de todos os amores - o único amor que não conhece condições - e por isso é o mais valioso e duradouro de todos. Sem ele, muitos homens e mulheres, abandonados por toda a humanidade, não conheceriam outro caminho senão o suicídio. É a certeza que, não obstante, existe ainda uma pessoa no mundo que lhes quer bem e os conforta que os mantém vivos e desejosos de viver. O amor da mãe consegue este milagre e muitos outros mais pequenos.

Esta é uma relação que se inicia quando a mãe descobre que está grávida e que se intensifica durante a gestação para atingir a plenitude à medida que o filho nasce e se desenvolve. É certo que às dez semanas de gravidez esta relação está ainda no início - mas já existe. Cortar esta relação, mesmo que numa fase inicial, vai ter um custo para a mãe e um custo que se pode prolongar para o resto da sua vida - porque, não é de mais insistir, está-se a cortar a relação mais intensa que pode existir entre dois seres humanos.

Por isso, eu não posso subscrever a leveza de alguns argumentos pretensamente racionais, vindos do lado do Sim, que têm caracterizado esta campanha e, de algum modo, legitimam o aborto. Porque a relação entre uma mãe e um filho - mesmo que em fase fetal - não pode ser analisada em termos racionais. Trata-se de uma relação profundamente a-racional. E ainda bem que assim é, caso contrário, muitos de nós - senão mesmo, a maioria - não estaríamos hoje aqui.