17.2.07

PLANIFICAÇÃO - 1

«A característica comum a todos os sistemas colectivistas pode exprimir-se numa frase que suscita a aceitação cordial dos socialistas de todas as escolas: consiste ela na organização racional de todas as actividades de uma sociedade com vista a uma determinada finalidade social. Uma das principais críticas socialistas à nossa sociedade incide por conseguinte na ausência dessa direcção «racional» para um determinado fim e considera que as actividades sociais são guiadas pelos humores e fantasias de indivíduos irresponsáveis.

Tem esta crítica a vantagem de, em muitos aspectos, exprimir com clareza a questão fundamental. Conduz-nos imediatamente àquele ponto onde se dá o conflito entre o colectivismo e a liberdade individual. As diversas variantes do colectivismo - o comunismo, o fascismo, etc. - diferem entre si pela natureza da finalidade para a qual orientam os esforços da sociedade. E todas em conjunto se distinguem do liberalismo e do individualismo por quererem organizar a totalidade da sociedade e dos seus recursos em função de um único fim e por se recusarem a reconhecer domínios autónomos nos quais os objectivos do indivíduo são soberanos. Em suma, todas elas são totalitaristas no verdadeiro sentido desta nova palavra, palavra recente que adoptamos para designar as manifestações imprevistas mas inseparáveis daquilo que, na sua teoria, recebeu o nome de colectivismo.

A «finalidade social» ou o «objectivo comum», para a qual a sociedade deve ser organizada segundo o colectivismo, é também designada por «bem comum» ou «bem-estar geral» ou «interesse geral», sempre em termos tão gerais e vagos que não é preciso um grande esforço de reflexão para verificarmos como nunca eles possuem um significado suficientemente rigoroso para poderem determinar um rumo de acção definido. O bem-estar e a felicidade de milhões de homens não podem ser medidos por uma única escala que alguns tantos estabelecem. O bem-estar de um povo, tal como a felicidade de um homem, depende de um número infinito de coisas que só se podem conseguir através de uma variedade infinita de combinações. Dirigir todas as nossas actividades segundo um único plano implicaria que a cada uma das nossas carências fosse marcada uma certa posição numa escala de valores que teria de ser suficientemente ampla para que fosse possível decidir ente os rumos que o planificador tem de escolher.»

Frederich. A . Hayek, in «Caminho para a servidão»