6.4.05

Re:Posição de um liberal (RAF) sobre a noção de casamento

Em relação à posição do Rodrigo, há duas ou três ideias implicitas no seu post que eu gostaria de comentar:

1. Em última análise só pode existir uma posição liberal sobre um determinado assunto. A existência de duas posições liberais sobre o mesmo assunto transformaria o liberalismo numa filosofia relativista que eu penso que não é.

2. Os apelos à «evolução das sociedades e das culturas» para justificar determinadas posições podem, mais cedo ou mais tarde, fazer ricochete porque esse argumento tanto serve para justificar a tradição como a mudança. É um argumento que tanto serve para justificar a tradição do casamento como a evolução para uma coisa totalmente diferente na qual o Rodrigo não se reconheceria. Afinal as sociedades evoluem.

3. Uma sociedade em que o estado é principal certificador do que deve e não deve ser reconhecido socialmente é uma sociedade iliberal. É que se uma determinada instituição é reconhecida espontaneamente pela sociedade, então o reconhecimento do estado é redundante. Se essa instituição não é reconhecida espontaneamente pela sociedade então a interferência do estado será feita contra os valores e a vontade da sociedade.

4. Numa sociedade livre, as palavras e os conceitos são definidos de forma descentralizada e ninguém tem o direito de definir o que é o verdadeiro «casamento». O conceito de «casamento» que o Rodrigo parece defender está a morrer, e a culpa não é minha, nem do nome que se lhe dá. A verdade é que o casamento deixou de ser uma instituição da sociedade civil e foi estatizado. Como todas as instituições estatizadas, o casamento vai morrendo porque deixou de ter que depender do sentido que as pessoas concretas lhe atribuem.