O Manuel responde à minha questão sobre a oferta e a procura defendendo que existem casos em que a procura sobe com o preço. O Manuel cita o exemplo dos bens de Giffen que como o próprio Manuel diz não foram confirmados empiricamente. Ou seja, a ideia dos bens de Giffen resultou de uma análise a priori. Através de uma análise a priori já temos uma explicação possível para um evento que venha eventualmente a ser observado.
O Manuel refere ainda o caso dos bens de luxo e o caso dos bens em que existe assimetria de informação.
No caso dos bens de luxo, o Manuel cita The Theory of the Leisure Class, um livro de 1899 que suspeito eu não tenha muitas análises estatísticas. Suspeito que o livro contenha demasiados apriorismos para o gosto do Manuel e muito poucas estatísticas a sustentar as afirmações mais importantes.
É curioso que o Manuel cite o caso da informação assimétrica. É que a informação relevante não é pública. Se o vendedor sabe mais que o comprador, então também sabe mais que o economista e qualquer quantificação é impossível. A fórmula mágica que nos permitiria determinar o preço certo de um carro usado não pode ser determinada. Se eu perguntar ao Manuel "Vai continuar a ler o romance ou pretende quantificar isso?" ele não poderá responder.
Devido aos limites do seu próprio objecto, os estudos sobre informação assimétrica dependem essencialmente de raciocínios a priori. É isso que acontece com "The Market of Lemons: Qualitative Uncertainty and the Market Mechanism" (PDF, 12 Mb). A parte essencial do artigo, a teoria, depende de um raciocínio a priori com base naquilo que nós sabemos que motiva os seres humanos. O autor apresenta algumas estatísticas e alguns exemplos do quotidiano. Mas como não há controlo das variáveis que poderiam complicar os resultados, as estatísticas e as observações não podem confirmar a teoria. Na verdade, o autor acaba por se dedicar mais à (re)interpretação das observações e das estatísticas à luz da teoria do que a uma tentativa de provar a teoria.