A extraordinária acusação de "caudilhismo" lançada pelo ainda ministro Morais Sarmento contra a decisão de convocação de eleições antecipadas, para além do propósito ofensivo em relação ao Presidente da República [...]
Freitas do Amaral já reagiu e diz que caudilho é o Santana: Freitas do Amaral sustentou hoje que Santana Lopes é o único exemplo de "caudilhismo" da democracia portuguesa. Eu não percebo muito disto, mas o General Ramalho Eanes e Cavaco Silva, e se calhar Paulo Portas daqui a uns anos, davam bons caudilhos, mas Santana Lopes?
Ora bem, o que é que Morais Sarmento realmente disse? Depois de lhe perguntarem se o Presidente deveria demitir o governo, Sarmento disserta sobre os sistemas políticos europeus dizendo que situações como a presente não são nada comuns nas democracias europeias. E depois acrescenta: ««Já exemplos deste tipo [no estrangeiro] só numa lógica de caudilho. Não os encontro numa lógica de funcionamento de sistema democrático estabilizado.»» Sarmento esquece-se propositadamente da França, ou se calhar até não porque o presidente francês é um sucedâneo de Rei Sol.
A análise que Morais Sarmento faz é no essencial correcta e não é diferente da que CAA faz quando diz que a «própria noção de Presidente da República parece-me, cada vez mais, um sucedâneo monárquico» . É por isso muito curioso que análise comparada dos sistemas políticos tenha sido transformada num ataque ao presidente da república. É a vida política que temos.
