As imagens, inicialmente mostravam uma manifestação/desfile normal. Depois começou o bloco dedicado aos confrontos. Aí já não se viam manifestantes, mas sujeitos encapuzados, tipo ETA/IRA, com bastões a tentar agredir as forças policiais. E mesmo no momento em que a jornalista lia: «....os manifestantes, impedidos de se aproximarem do local da reunião do G8, não deixaram de manifestar o seu desagrado...» as imagens passam de um ataque a uma carrinha, para um tipo, que calmamente, com um bastão, partiu os vidros de uma viatura civil estacionada.
Eu sei que há muitos estagiários na televisão e nem todos terão a mesma preparação. Mas há editores-adjuntos e editores-chefe que deveriam ser responsáveis e profissionais. E não custava nada separar a peça em duas partes: os manifestantes e a sua argumentação e uma segunda, com os actos de violência e os delinquentes. Julgo até que os próprios manifestantes agradeciam tal separação. É que assim, tudo á molhada, só denigre quem julga legitimamente ter razões para se manifestar. Da forma como foi apresentada, tratou-se tão só de um acto de branqueamento de uma actividade criminosa.
Eu sei que há uma cultura instalada que diz que os «ricos», neste caso, os dirigentes dos países, são uns aldrabões e só tem o que merecem. E que os manifestantes tem sempre razão, embora ocasionalmente existam uns mais radicais. Mas que não tem culpa, porque se as reivindicações - que são, do ponto de vista genético de muito jornalista, sempre encaradas como justas -, fossem aceites, já nada daquilo se passava. Porque no fundo, é a «intransigência» dos «líderes ricos» que é a responsável pelos actos radicais, de «desespero».
É a mesma justificação ideológica que leva muitos a encarar como «desesperados» os bombistas-suicidas.