Uma outra, e se calhar ainda maior manipulação, de carácter global, diz respeito ao que está em causa, quer na própria cimeira do G8, quer no que diz respeito aos interesses e argumentação de manifestantes e ONG's.
De acordo com as agências, a agenda (relativa a África), de Tony Blair é a de tentar:
1. Duplicar a actual ajuda ao desenvolvimento, atribuindo de imediato um total de 50 mil milhões de euros por ano, daqui até 2010;( e não 2015 como fixado em cimeiras anteriores).
2. Redução gradual das subvenções públicas ao sector agrícola e direitos aduaneiros por parte dos países industrializados;
O acordo será naturalmente difícil, seja no primeiro ponto, por razões da ainda pouca estabilidade e honestidade dos Estados do terceiro mundo (o que não dá garantia de que tal ajuda surta feito, pelo contrário), seja sobretudo na segunda questão, pela esperada reacção negativa por parte da França e dos EUA.
E o que desejam os manifestantes? Acaba-se por não se saber ao certo. Se os organizadores do Live8 insistem na concretização do primeiro ponto, muitas ong's, sérias, colocadas no terreno, como por exemplo talvez a maior e mais importante no mundo, a Oxfam, insistem muito no segundo ponto:
«The G8 leaders must seize the opportunity tomorrow to make a strong statement on the importance of fairer global trade rules. We want to hear loud and clear that they are committed to trade reform that will help Africa.
Currently world trade rules favour rich countries and large corporations; the $250bn a year spent on agricultural support by rich countries locks Africa into poverty. The progress of crucial negotiations at the World Trade Organization (WTO) is painfully slow and the G8 meeting could give the talks a much-needed boost. Jo Leadbeater said: "This is no time for watered down ambitions. Unless the G8 agrees to push for trade reform, developing countries will lose out yet again and the enormous potential for trade to be a tool for poverty reduction with be squandered. Aid and debt relief are vital, but unless we deliver trade reform, Africa will stay locked in poverty."»(...)
Acontece no entanto que a comunicação social apresenta tais manifestantes, invariavelmente, como anti-globalização. O que é totalmente contraditório e mesmo o oposto do que defendem as ong's, pois o que estas pretendem é que os países pobres possam escoar, desenvolver e comerciar as suas produções agrícolas, num mercado livre de barreiras e subvenções que distorcem os preços, e tem vindo a destruir as suas economias. Pelo seu lado, os activistas anti-globalização, defendem o proteccionismo e utópicas auto-sustentaçoes nacionalistas.
Eu não vi por lá o Bové, esse parasita, mas ele é o caso extremo e simbólico da confusão que por aí vai. Representa tão só todos os que vivem bem á custa dos países pobres e estão em total oposição às pretensões desses países e das organizações especializadas,.
Ou seja, quem vê aquelas manifestações não sabe ao certo o que pretendem, ou fica com ideias erradas, não certamente por culpa das organizações envolvidas, mas por exclusiva responsabilidade dos jornalistas, que, suspeito, transformam a realidade nos seus desejos e convicções.