«(...) Ana, de 19 anos, a portuguesa no atentado de Liverpool Street, ia para mais um dia de trabalho no estágio que está a fazer na Goldman Sachs, na city. Teve sorte, estava na carruagem seguinte, o resto da história já todo o mundo sabe.
A Ana tem pesadelos, veio ao Porto passar o fim-de-semana, mas hoje está de volta ao estágio e às ruas e ao metro. Ela e quase todos os londrinos. Preocupada mas determinada a cumprir os objectivos que traçou quando há dois anos (então com 17 anos) foi estudar para a Warwick Business School.
A Ana não culpa Bush, nem Blair, nem Barroso (embora saiba que a guerra no Iraque foi um embuste). Parece que os britânicos também não, embora um outro povo da Europa tenha mudado como um catavento em circunstâncias análogas. Tratar-se-á da diversidade cultural? Ou antes da diversidade genética? E os portugueses, como teriam reagido se a tragédia fosse em Lisboa? Tome-se o exemplo das reacções da grande coligação de interesses neocorporativos lusitanos às medidas timidas de regeneração orçamental, e está tudo dito.
Mas isso pouco importa à Ana, nem aos milhares de jovens portugueses que, por vontade ou necessidade, mas certamente com empenho, partem para o Reino Unido, abandonando um modelo económico gasto e um modelo (a) social injusto, à procura de uma janela de esperança no futuro.
Felizmente, Londres fica apenas a duas horas e uns poucos euros (ou libras) do Porto, frequentemente mais barato que a portagem da auto-estrada Porto-Lisboa e de certeza mais barato que esse tal TGV! Ou será que o TGV também vai ser scut?
Pedro M. M. Castro, o pai da Ana
Vila de Cucujães (...)
In Público de 12.07.2005 (Cartas ao Director)
Rodrigo Adão da Fonseca