14.7.05

Notas sobre liberalismo e a fulanização do debate político

1. Os liberais defendem que os indivíduos se movem pelos seus interesses próprios e não por um amor desinteressado à causa pública. Dificilmente um liberal se considerará uma excepção a esta regra.

2. Qualquer liberal dirá que a vida pública se rege acima de tudo pela lei, admitindo-se no entanto que as relações privadas entre individuos em pequenas comunidades se possam reger por regras éticas próprias definidas por mútuo consentimento.

3. A ética privada e a política são questões separadas. Para os amigos e conhecidos aplicam-se as regras da ética privada, para os estranhos e para o estado aplica-se a lei. Quem aplica a ética privada à sua relação com estranhos ou com o estado cedo descobrirá que a outra parte não retribui.

4. Se a lei está errada, os liberais defendem a mudança da lei e não são ingénuos ao ponto de pensar que o problema se resolve com medidas voluntaristas e unilaterais de alguns cidadãos mais altruistas.

5. Nenhum liberal defende que os liberais devem abdicar voluntária e unilateralmente dos direitos que a lei lhes concede.

6. O liberalismo não tem nada a dizer sobre os comportamentos privados que não violam a lei. Essa é uma questão entre cada indivíduo e os seus amigos, a sua consciência ou o seu confessor.

7. Para o liberalismo todos os comportamentos que estão de acordo com a lei são éticos. Outro problema são as leis e as instituições que não são éticas. Para esse casos os liberais defendem reformas institucionais e não mudanças dos comportamentos individuais.

8. O liberalismo não faz apelos ao sacrifício pessoal nem à autoflagelação. Espera-se apenas que os liberais aceitem as reformas institucionais justas. Não se espera que os liberais renunciem aos direitos que os restantes cidadãos têm.

9. O auto-sacrifício voluntarista não é uma forma de liberalismo (mas compreendo que o domínio da moral judaico-cristã possa causar alguns equívocos), é apenas uma forma de estupidez. Nenhuma reforma liberal digna desse nome será algumas vez produzida graças ao sacrifício voluntarista dos liberais. Se os liberais se recusarem a participar na sociedade tal qual ela existe limitar-se-ão a deixar o caminho aberto aos socialistas. Não há glória nenhuma na estupidez.

10. Um liberal não é necessariamente um empreendedor. Um liberal é apenas um fulano que defende uma determinada ordem política na qual cada um terá o direito de optar pela profissão e pela vida pessoal que bem entender.