13.7.05

O competentismo

O competentismo é uma tese muito comum. Em Portugal, as coisas até podiam funcionar, mas não funcionam porque os políticos e os dirigentes que estes nomeiam são incompetentes. Segundo esta tese, tudo se resolveria se todos fizessemos pressão para que os políticos se tornem competentes. Ou se pelo menos alguns de "nós", os competentes, nos dedicassemos à política.

Um liberal dificilmente poderá aderir à tese do competentismo porque o competentismo não tenta perceber quais as causas profundas do triunfo dos incompetentes. Há duas razões fundamentais para o fracasso do competentismo. Por um lado, o competentismo fulaniza os problemas e não tenta perceber porque razão o sistema favorece os incompetentes. O competentismo nunca nos permitirá perceber que num sistema igualitarista são sempre os piores que chegam ao poder porque à luz do igualitarismo a política não passa de uma forma de saque organizado dos recursos da minoria por parte da maioria temporária. Por outro lado, o competentismo nunca nos permitirá perceber que uma sociedade não se torna disfuncional por causa da incompetência dos seus líderes, mas por causa das limitações à liberdade de grande parte dos seus membros e da separação deliberada entre liberdade e responsabilidade.


O competentismo é uma ideia anti-liberal. Tem as suas origens na ideia de que numa sociedade há uns que mandam e outros que obedecem. Na ideia de que a ordem social deve ser criada pelas elites, as quais devem organizar os restantes de acordo com as suas ideias iluminadas. E os restantes devem estar muito agradecidos por serem dirigidos por tão iluminadas cabeças.

As sociedades funcionais não o são porque os seus membros são competentes, mas porque a associação entre liberdade e responsabilidade incentivam cada membro da sociedade a uma cooperação frutífera com os restantes. Quando não há liberdade, ou quando a liberdade está separada da responsabilidade, desaparecem os incentivos à cooperação frutífera entre indivíduos e os indivíduos, podem até ser competentes, mas serão competentes a fazer as coisas erradas.

Existem muitos exemplos de pessoas competentissimas em sociedades disfuncionais. Salazar era um ditador competentissimo. Rosa Casaco era um pide competentissimo. Tenho a certeza que os nossos burocratas são competentíssimos a tratar da papelada. Todos os nossos ministros da educação foram competentíssimos a criar o sistema que eles queriam de facto criar, um sistema que não exclui ninguém, mas que também não ensina nada. Foi tudo deliberado e nenhum deles se arrependeu do que fez. Todos os nossos ministros da economia foram competentíssimos quando implementaram sistema de subsidio-dependentes. Os nossos ministros da agricultura têm sido competentíssimos a distribuir subsídios.