13.7.05

TÓPICOS DE UMA INTERVENÇÃO (2)

O PARADOXO DA COMPULSIVIDADE ESTATISTA

É um fenómeno típico dos países do 2º ou do 3º mundo e que, entre nós, se constituiu como dogma inquestionável do pensamento e acção dos agentes do actual regime político:

  • Por princípio racional, quando a Administração Pública funciona muito mal os cidadãos deveriam recear a sua intervenção. Se o Estado é comprovadamente ineficiente, se os seus comportamentos criam ou/e agravam os problemas a Sociedade deveria tudo fazer para conter a sua actuação. Ora, entre nós tal como na generalidade dos países menos desenvolvidos intelectualmente, a inoperância do Estado é reconhecida por quase todos. Mas, contraditoriamente, tal não impede que a intervenção do Estado, mecanicamente e em uníssono, seja exigida para sarar todas feridas inclusivamente aquelas que o próprio Estado provocou e, carinhosamente, mantém. Reiteradamente, cegamente, obstinadamente, sempre que um problema nasce ou se avoluma pede-se a interferência do Estado. Quando este nada resolve ou ( como frequentemente acontece) piora o que está, inapelavelmente os "peritos" acabam sempre por descortinar que isso se deve a um défice de intervenção pública - logo, clama-se por mais actuação do Estado. Trata-se de um reflexo condicionado colectivo, de uma fé a que quase ninguém escapa. O PARADOXO DA COMPULSIVIDADE ESTATISTA traduz-se numa espiral de irracionalidade em que quanto pior o Estado actua mais requerida é a sua intervenção.
A crença inquebrantável na intervenção dos poderes públicos como remédio para quase tudo é o elemento unificador entre a Direita e Esquerda, empresários e sindicatos, funcionários e particulares, professores e alunos, reclusos e guardas prisionais, pobre e ricos, bombeiros e incendiários, republicanos e monárquicos, gente bem pensante e seres ideologicamente roncantes.
Resulta desta unanimidade estatista o mimetismo dos discursos e a mesmice da acção política entre as diversas forças políticas que se vão sucedendo no poder em Portugal e nos demais paísese do 2º e do 3º mundos.
Enquanto não superar a lógica da sua tradição história e não contrariar os seus paradigmas essenciais, a Direita portuguesa nunca poderá evoluir e será, cada vez mais, uma triste imitação beata da esquerda lamentável que também temos.