«Iam passando os dias em deliberações estéreis, discutindo-se e votando-se de afogadilho uns projectículos de campanário, quando pelo fim de Janeiro (estava a libra a 350 escudos) Manuel Maria Coelho se voltou para Velhinho Correia (Ministro das Finanças):
- Senhor Ministro! A situação é cada vez pior, e verdadeiramente insustentável. Quando tenciona Vossa Excelência apresentar ao Parlamento as propostas das Finanças?
- Eu? Mas eu não tenho propostas algumas a apresentar.
- O «déficit», porém, é cada vez maior, e...
- Deixá-lo ser! Quem pode impedi-lo? Vossa Excelência não vê o Parlamento a aprovar todos os dias projectos de lei com aumento de despesa? Vão lá pegar-lhes! E quer que eu apresente propostas tendentes a comprimir as despesas e aumentar as receitas? Isso apresenta ele! Para me fazerem como o ano passado!
- Mas, nesse caso, vai tudo ao fundo.
- Disso estou eu convencido há muito tempo. E é que não há volta a dar-lhe. Já o defunto Baracho viu isso há bons dez anos: os fados hão-de cumprir-se. E cada um que se arranje, enquanto é tempo.
(...)
O ministro das Finanças tinha, afinal, razão. Com que menos se importava a Assembleia Nacional era com a resolução dos problemas que mais urgiam para o equilíbrio orçamental e o regresso a uma situação desafogada. (...)
Campos Monteiro, «Saúde e Fraternidade», sobre episódios ocorridos durante o período da República Radical (28 de Agosto de 1924 a 3 de Março de 1925).