20.7.05

Quem te avisa, teu amigo é

Ainda as «Noites à Direita» estavam no «prelo», tive a oportunidade de, com amizade e em total serenidade, recomendar a Pires de Lima, Lobo Xavier e Filipa Correia Pinto que, se era sua intenção criar uma plataforma liberal à Direita, procurassem ter alguma preocupação com o conteúdo dos debates. Compreendo perfeitamente que numa organização deste tipo possam existir pessoas de várias sensibilidades, e concordo completamente que o Liberalismo não é uma doutrina de pensamento único.

Agora, e como deixei bem claro, para salvaguardar o carácter das «Noites», e se o objectivo era (é) gerar alguns consensos mais alargados à Direita em redor de algumas das ideias centrais do Liberalismo, seria essencial, pelo menos, não promover o que não é Liberal.

Nesse mesmo sentido escreveu o João Miranda, quando enunciou num post - Reconcentremo-nos no essencial - o que entendia ser o conteúdo mínimo para que uma iniciativa pudesse asumir-se como liberal.

O Blasfémias foi acusado de ortodoxia, de defender o «orgulhosamente sós», de não cooperar, de apenas dar eco a picardias antigas e ódios pessoais.

Nem mesmo depois de ler tudo o que foi dito e escrito aqui e noutros blogues que marcaram presença nas «Noites à Direita» (A Arte da Fuga, O Insurgente), deram ouvidos a quem está de boa-fé, como é o meu caso. Nem mesmo depois de à luz do dia transparecer um mal estar óbvio no Acidental entre liberais e não liberais, perceberam que estão no mau caminho.

Ontem, PPM ironizava com o João Miranda, dizendo:

«Eu sei que não sou um liberal by the book como o João Miranda, mas julgava que ele já tinha percebido a grande diferença entre as "Noites à Direita" e o Café Blasfémias: é que, ao contrário dos organizadores do Café Blasfémias, os promotores das "Noites" não convocam reuniões para se ouvir a si próprios».

O João Miranda, como eu e muitos outros, apenas manifestámos a nossa estranheza pela escolha de Pedro Mexia como defensor de serviço numas Noites Liberais onde o tema é a Cultura, conhecidas que são as suas posições sobre esta matéria. Na caixa de comentários do Acidental escrevi:

«Causa estranheza também ver que num debate sobre cultura o defensor à Direita seja Pedro Mexia. O que pensa, por exemplo, Pedro Mexia sobre os subsídios estatais para promoção da Cultura? Desconfio que a resposta do Pedro Mexia não será lá muito liberal... PM é uma pessoa inteligente, de Direita, mas do que leio parece-me mais ser um conservador do que um liberal. Mas em Setembro teremos oportunidade de ouvir o que ele pensa».

Não tenho nada contra o Pedro Mexia; gosto do que leio (concorde ou não). Mas parece-me ser mais um enorme erro de casting num evento que diz que quer ser liberal, mas que nos pede sistematicamente que ignoremos o seu conteúdo claramente deslocado do Liberalismo.

O próprio Pedro Mexia nem sequer esperou por Setembro, tendo aproveitado toda esta discussão para «pôr os pontos nos i's»:

Alguns bloguistas direitistas, nomeadamente no Blasfémias, consideram estranho que eu participe num evento chamado «Noites Liberais» (numa sessão marcada para Setembro e dedicada à cultura). Insinuam sisuda ou ironicamente que eu não sou um liberal como eles são. Mas é claro que eu não sou um liberal. Sou em muitas matérias um aliado dos liberais, simpatizo com algumas posições liberais, mas nunca me considerei liberal. Escrevi isso tantas e tantas e tantas vezes em três anos de blogues que não vejo onde exista dúvida ou polémica.

Não me foi comunicado pela organização das «Noites Liberais» nenhum caderno de encargos: perguntaram se me interessava discutir determinado tema com um convidado que tenha ideias diferentes (no caso António Mega Ferreira). Só isso. Se me convidassem para representar os liberais, eu tinha recusado o convite, porque não sou liberal (e em matéria cultural ainda menos). E se me convidassem para representar os conservadores, também tinha dito que não, porque mesmo sendo conservador obviamente não represento ninguém.

Para mais adiante acrescentar algo que alinha no fundo com a análise que aqui - e noutros blogues - tem sido feita:

Outra coisa será dizerem que o «liberal» das «Noites Liberais» não é realmente liberal. É uma discussão interessante. Acho que o «liberal» das «Noites Liberais» pretende apenas marcar uma cisão com a direita iliberal, atitude na qual me reconheço inteiramente. Admito que existam poucos liberais nas «Noites Liberais». Mas lembro que alguns dos nossos bloguistas ditos liberais - nem é o caso dos Blasfemos - têm o costume de louvar constantemente as opiniões ultramontanas em matéria de costumes.

Caro Pedro Mexia. Nós, como tu, também não temos nada «contra gente com contradições». Só não percebemos porquê tanta acidental irritação quando, a partir da nossa bancada, criticámos, num país livre, aquilo que salta aos olhos. Agora, compreenderás que eu - como outros - que lê o que tu escreves, fique espantado por ver que foste eleito como defensor de serviço nas «Noites à Direita». É que eu, tu, e muitos outros que te lêem atentamente, sabemos, obviamente, que não és liberal. Mas, quem te convidou, será que sabem isso? E se sabem, como é que te convidam para um evento que quer marcar a agenda liberal à direita? Para a minha humilde e compartimentada cabeça, isto é uma grande confusão...

A FCP insiste em não querer ver a realidade, encontrando no post de Pedro Mexia um novo alento para prosseguir nesta agonia. O PPM ainda não disse nada, espero que não insista em manter a cabeça debaixo da areia; e que consiga travar aquilo que já é evidente: a desagregação do seu blogue.

Tenho pena de não ter sido ouvido, e que a autofagia e o autismo que por vezes caracteriza o PP se tenha apoderado das «Noites à Direita» e de alguns blogues simpáticos da nossa praça. Espero que as coisas ainda sejam recuperáveis, porque, embora no Blasfémias gostemos de falar uns com os outros, faz-nos falta a vossa acidental companhia.

Com amizade,
Rodrigo Adão da Fonseca