13.7.05

TÓPICOS DE UMA INTERVENÇÃO (1)

PORQUE É QUE A DIREITA NUNCA É LIBERAL QUANDO CHEGA AO PODER?

Pelo menos quanto a esta questão, a Direita portuguesa é coerente: não é Liberal quando chega ao Poder porque nunca o foi verdadeiramente antes de lá chegar.
A Direita portuguesa nunca é Liberal - nem antes, nem durante, nem depois de atingir o Poder em qualquer uma das suas dimensões.
Para o pensamento dominante na Direita portuguesa o liberalismo não passa de uma de duas coisas:

  • Uma excentricidade de intelectuais ou de jovens utopistas, ambos igualmente carentes de experiência ?real? da vida e da governação;
  • Uma embalagem atraente, com toques modernaços, capaz de cativar alguns nichos de mercado eleitoral mais propícios a acreditar em mensagens que ofereçam a ilusão da novidade.

Mas assim que atinge os seus objectivos de poder a Direita portuguesa volta a ser aquilo que sempre foi:

  1. Uma confrangedora incapacidade de superação do seu trauma de infância miguelista.
  2. Um ressentimento não contido face ao Princípio da Igualdade, à Liberdade e à modernidade.

Durante os últimos 200 anos, uma recusa constante de aceitação de TODAS as circunstâncias históricas em que Portugal se poderia colocar ao nível dos seus parceiros europeus:

  • Rejeição do Constitucionalismo liberal;
  • Colagem a revoltas filo-pré-modernas (Maria da Fonte/Patuleia);
  • Adesão à ditadura de João Franco;
  • Recusa da República e demonização de Afonso Costa;
  • Apoio ao golpe sidonista;
  • Simpatia ou, até, aplauso à "monarquia do Norte" de Paiva Couceiro;
  • Participação no 28 de Maio de 1926 e suporte embevecido ao regime que se lhe seguiu;
  • Entusiástico apoio ao despotismo provinciano do pároco de aldeia que governou o país durante quase meio-século de ditadura católica;
  • Desconfiança pela "primavera marcelista";
  • Desconfortável adaptação à Liberdade e direitos fundamentais do pós-25 de Abril.

Estes acontecimentos, principalmente o salazarismo (verdadeiro modelador do seu tipo normativo, ainda não ultrapassado), formataram "pavlovianamente" a Direita portuguesa para uma atitude predominantemente retrógrada, autoritária, centralista e estatizante, estando esta desagradável mescla envolta em roupagens feitas de superstição - a que, eufemisticamente, se costuma chamar religião.