13.7.05

VIVER O LIBERALISMO (como não)

Num comentário a uma posta minha, o Paulo Vaz disse:

«A direita portuguesa não é liberal porque tal como você, depende do Estado. Ao que sei, você também é funcionário público do Estado que tanto critica. Outros Blasfemos são também funcionários públicos»·

O mal não está em "depender" do Estado se tal se consubstanciar em trabalhar numa estrutura pública. Pode-se ter emprego numa entidade pública e manter perene a convicção de que se trata de uma área em o Estado deveria ter um papel distinto. O local de trabalho não dita aquilo que se pensa, não molda o modo de encarar a Sociedade e a vida.
Um liberal não é um eremita isolado dos seus semelhantes obrigado a um esforço de martírio. Um liberal, para o ser, não está em estado de sujeição face ao imperativo de se desligar do tempo em que está movido pelo dogma da coerência (sobretudo se este último resultar da interpretação dos não-liberais). Não.
Um liberal será sempre alguém que vive na realidade em que está e que tenta usufruir legitimamente das oportunidades que se lhe oferecem.

Depois tem uma opção a fazer: ou mantém a lógica do seu pensamento desligando-a da sua acção; ou faz a escolha de condicionar a sua vida, nas suas mais variadas componentes, àquilo que considera ser os pressupostos essenciais do liberalismo.
Qualquer uma destas opções é liberal.
Mas a segunda aproxima mais o liberalismo de uma noção existencial totalizante, quase religiosa. E mesmo nessa área, sempre desdenhei as interpretações proto-franciscanas que garantem que o cristianismo só pode ser vivido através da renúncia. Ou as suas congéneres políticas do comunismo "romântico".
Também por isso, prefiro a primeira escolha.