A Direita, em Portugal, não é liberal (é um dado histórico), desde logo porque os portugueses, de um modo geral, não são liberais.
Logo, nem a Direita, nem a Esquerda, nem tão pouco o Centro, são, em Portugal, liberais.
Sem grandes preciosismos - até porque há vários tipos de pensamento liberal - e mesmo correndo o risco de alguma falta de rigor, o que parece evidente (e tão claro resultou do 1º Café Blasfémias) é que os portugueses, quer colectiva e sociologicamente, enquanto Nação, quer mesmo individualmente, são epidermicamente avessos a uma série de valores e princípios que se reconduzem à liberdade e responsabilidade individuais, bem assim como relativamente ao risco, ao gosto pelo pluralismo e à aceitação da diversidade (como um factor de enriquecimento) e ao correlativo culto da tolerância.
O "paradoxo da compulsividade estatista" (como tão bem exemplificou o CAA), o crónico excesso de Estado (logo, o mau Estado), a permanente interferência dos poderes públicos na esfera individual dos cidadãos, enfim, o formalismo desresponsabilizante que nos serve, muitas vezes, de panaceia e bem ilustrado pelo Rui A. com o formalismo legalista que, em certas circunstâncias, nos é tão típico, tudo isso são consequências dessa aversão.
Tais consequências manifestam-se reiteradamente, entre nós. Têm longínquas e diversificadas aparições históricas, adaptando-se às circunstâncias do tempo. De tal forma assim vai sendo que se criou um certo caldo cultural português, condimentado com doses fortes de centralismo (simultaneamente causa e consequência de tal caldo cultural) que, realmente, não rima com liberalismo - ou, se quisermos (usando uma expressão feliz que, em tempos, intitulou também uma série de pequenos ensaios e crónicas de J. C. Espada), afastou-nos de uma genuína "tradição de liberdade".
Por isso é que (como em tempos escreveu o CAA) "é difícil ser liberal em Portugal"!