27.1.06

Os mestres da moderação

Homenagem a Pierre Menard




Se eu me guiasse por alguns faróis da moderação que iluminam a blogosfera, já me tinha provavelmente albergado à sombra do radicalismo. Intolerância por intolerância, antes a velha esquerda anarquista do que este arrivismo ideológico que passa por moderação. Basta ler certas coisas que se escrevem, por aí, para se perceber que, para os seus mais zelosos apóstolos, a moderação?não é moderada. É um intricado de regras invioláveis e de certezas iluminadas. Uma luta feroz pela imposição da ortodoxia moderada. E um campeonato pueril de exibições mesquinhas e de egos mal ajustados. Ser mais moderado do que qualquer outro moderado é o grande desígnio que anima certos moderados. A moderação é o exclusivo de uns tantos: há sempre alguém, de cartilha em punho e de dedinho em riste, disposto a zelar pelos princípios da seita. O mínimo desvio e a mais leve heterodoxia são imediatamente denunciados pela pena fácil dos mestres. Os mestres, na sua prodigiosa sabedoria, conhecem, apenas, um único caminho: os moderados, se quiserem ser moderados, têm que pensar segundo cânones moderados que foram criteriosamente estabelecidos pelas autoridades moderadas entretanto, designadas. E os cânones são apertadinhos. Não dão azo a deambulações do espírito. Nem a tergiversações doutrinais. A coroa de glória dos mestres é apanhar um moderado em falta. Denunciá-lo na praça pública. Apontar-lhe a ignorância. E mostrar, pelo caminho, a sua superior inteligência de mestre. O mínimo que se pode dizer é que esta gente, coitada, faz pior à moderação que todos os apologistas do radicalismo.