20.3.06

Modas da política

Poucas criaturas serão tão "escravisáveis" pela moda como os políticos. Entenda-se a moda não apenas no sentido mais restrito de apresentação das suas excelsas figuras, no que à vestimenta e maquilhagem respeita, mas sobretudo na adesão acéfala às "modernas" correntes do pensamento dominante. É assim que todos apoiam entusiástica e (ou) hipocritamente a paridade entre sexos, o primado das barrigas delas, as políticas de juventude, a indispensabilidade do investimento público e, em geral, toda e qualquer medida que cheire a discriminação positiva, certos de que todos estes temas são garante de boa imprensa.

Ao nível político e dentro do PSD, estão agora na moda as directas que tiveram consagração no congresso deste fim-de-semana. Com excepção de Morais Sarmento e de mais alguns barrosistas, poucos se atreveram a contestá-las no conclave, mas quase todos rangeram os dentes em off, irritados com tal modernice que sempre retira algum poder aos iluminados congressistas. Não tivesse o PS já implementado tal "aberração", donde até já saiu um primeiro-ministro, e jamais se faria um congresso para discutir tão abstruso tema. Mas a opinião publicada "exige" as directas, vistas como algo de purificador para todos os pecados e diatribes partidárias e como a varinha mágica que escancarará as portas do partido à sociedade civil (outro chavão ultimamente muito em voga).


As directas lá foram aprovadas para eleitor ver, mas apenas para o líder, que o resto da sua equipa terá de ser validado pela sapiência dos congressistas. Para fora vai agora propagar-se uma enorme mudança de costumes, a regeneração total do partido, cada vez mais um partido de militantes a esquecer-se dos eleitores. Na prática, subsistem os mesmos vícios e o eterno controleirismo do aparelho. Sintomático disso, é continuarem consagradas as aberrantes inerências da JSD, TSD e ASD.

A questão fundamental, a eleição em primárias dos candidatos aos diferentes órgãos de poder, foi pouco ou nada discutida, excepção feita ao especialista do contraditório Gomes da Silva. Louve-se o facto de este propor uma tal mudança na sua moção, mas que foi, como era de esperar, liminarmente rejeitada. Esporadicamente, Menezes também ventila o tema das primárias, mas sem grande convicção, não vá ele um dia tomar o poder no partido e, por via disso, deixar de o ter.

Em suma, a nomeação de todos os futuros deputados ou autarcas irá continuar a ser decidida por pouco mais de 1.000 congressistas de cada partido do grande centrão, quase todos eles "altos quadros" da administração pública. Só por mero acaso é que os seus critérios de escolha coincidirão com os do eleitor comum.