«Vinte e sete comerciantes do concelho de Benavente subscreveram um abaixo-assinado onde manifestam a sua 'revolta', porque consideram que o comércio tradicional do município está a «degradar-se cada vez mais, em virtude da invasão de lojas de cidadãos oriundos da China.»
Assim começava uma notícia na secção Local do jornal 'Público' de 12 de Março. Comecemos pelo conceito de comércio tradicional. O que é o comércio tradicional? Aquele que vende chitas, sabão em barra e feijão a granel? Por mais pitorescos que alguns destes espaços sejam a verdade é que muitos deles vendem quiquilharias e vestuário que apenas se distinguem das lojas de «cidadãos oriundos da China» nos preços, nos horários e no formato dos olhos de quem nos atende. A propósito as associações de combate ao racismo excluíram os chineses do seu âmbito de actividade?
Mas o estigma do 'chinês exterminador das tradições' está longe de se restringir ao comércio tradicional. Quatro dias depois, a 16 de Março, o mesmo jornal titulava triunfante nas páginas de Economia «Calçado português em Milão livre da concorrência asiática». Por outras palavras esta feira de Milão não permitiu este ano a presença de empresas asiáticas. Contudo se lermos toda a notícia ficamos a saber que não só as mesmas empresas portuguesas que em Milão se viram livres da concorrência asiática preparam deslocações à China para aí promoverem os seus produtos como que 20 dessas mesmas empresas se mostram interessadas em subcontratar fábricas na Índia.
Tanta contradição será natural mas não deixa de ser irónica.