Na Terça-Feira a "marcha" do Bloco passou por um shopping do Porto para protestar contra os baixos salários e os longo horários dos respectivos trabalhadores. A marcha do bloco é supostamente contra o desemprego. Nos dias anteriores Louçã tinha defendido que para combater o desemprego se deveria reduzir o horário de trabalho sem redução de salário. Os trabalhadores do shopping estão portanto, na opinião do Bloco, a roubar emprego aos outros trabalhadores. No entanto, o seu salário e as suas condições de trabalho resultam da oferta e da procura de trabalhadores por parte das empresas. Resultam também das escolhas dos próprios trabalhadores. Aquelas condições que o Bloco considera deploráveis são as melhores que aqueles trabalhadores conseguiram encontrar. São as melhores que pessoas com aquelas qualificações e aquele perfil conseguem encontrar. As alternativas existentes no mercado de trabalho são, a existirem, ainda piores.
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Vamos então supor que as medidas do Bloco para combater o desemprego são levadas à prática. Ninguém poderá trabalhar mais que 35 horas semanais, mas os salários ficam na mesma. De acordo com o Bloco isso deveria levar as empresas a contratar mais trabalhadores. Só que se o fizerem a rentabilidade do empreendimento diminui, pelo que devemos esperar que as empresas procurem esgotar primeiro as alternativas que lhes causem menos perdas.
Seguem-se algumas alternativas à disposição de uma empresa:
1. Fechar e reabrir com outro nome contratando de seguida os mesmos trabalhadores a salários mais baixos;
2. Fechar e mudar de ramo;
3. Cortar nos prémios e regalias;
4. Reduzir o horário de funcionamento às horas mais rentáveis;
5. Contratar estagiários não remunerados com a promessa de um contrato futuro;
6. Retardar as promoções;
7. Cortar em serviços de apoio ao cliente não essenciais;
8. Acordar com os trabalhadores horários mais longos que os legais;
9. Substituir trabalhadores permanentes por trabalhadores a recibos verdes;
10. Introduzir inovações tecnológicas que tornem mais produtivos os trabalhadores existentes;
11. Contratar os novos trabalhadores a salários mais baixos e arranjar maneira de correr com os antigos;
12. Não actualizar os salários e esperar que a inflação coloque os salários no seu valor de mercado.
13. Congelar as contratações até que o quadro de pessoal atinja a dimensão que maximiza o lucro.
14. Reinvestir os lucros em actividades de capital intensivo e sair das actividades que tenham demasiados problemas laborais.
15. Manter os trabalhadores, manter os salários, manter a política de contratações, manter as promoções, actualizar os salários como habitualmente, não introduzir inovações tecnológicas e aguardar serenamente a falência.
Estas medidas terão a médio prazo duas consequências principais:
1. Mais problemas estruturais na economia, mais desemprego e mais precaridade;
2. Redução dos salários dos trabalhadores existentes até que eles passem a ganhar de acordo com a sua produtividade.
Sendo Francisco Louçã professor e doutorado em economia, não é crível que não tenha já sido confrontado com este tipo de objecções às suas ideias pelo que não as devemos atribuir à ignorância mas sim à demagogia. A demagogia num político até é uma atitude natural. O que já é menos natural e requer uma explicação é a adesão da classe média alta, supostamente culta e educada, às ideias do Bloco em matéria de economia.