7.9.06

A obsessão anti-americana

A polémica à volta dos voos da CIA tem mostrado até que ponto é que a Opinião Pública europeia vive alienada da realidade. Os europeus, vivendo na Europa são afectados essencialmente pelas acções ou omissões dos seus governantes. O que se passa nos EUA ou o que os governantes dos EUA possam fazer poderá ter, quanto muito, ter efeitos secundários muito limitados na Europa. No entanto, os europeus mostram-se mais preocupados com os voos da CIA por serem da CIA, e com as prisões secretas da CIA por a CIA ser americana, do que com a mais que provável colaboração dos governos europeus e dos serviços secretos europeus em tudo o que a CIA tem feito. Só uma completa alienação da realidade lhes permite criticar aquilo que os governos europeus já fizeram no passado e voltariam a fazer se não tivessem a CIA para o fazer. A obsessão pela América e a alienação em que vive têm duas vantagens de curto prazo para o europeu típico. Permite-lhe manter a boa consciência ao mesmo tempo que as informações obtidas pela CIA em colaboração com os serviços secretos britânicos, alemães e franceses impedem ataques terroristas em solo europeu. Claro que a boa consciência se mantém sem que haja uma real preocupação com os direitos humanos dos terroristas. Se essa preocupação fosse real, os europeus estariam mais preocupados em influenciar quem podem influenciar, os seus próprios governos, do que em criticar quem não podem influenciar, o presidente Bush. Note-se ainda a relativa apatia com que são recebidas na Europa as medidas draconianas de combate ao terrorismo violadoras das liberdades individuais e compare-se essa reacção com as reacções indignadas às medidas que o governo americano toma em relação ao seu próprio território. Se os europeus estivessem efectivamente preocupados com as liberdades, preocupar-se-iam em primeiro lugar com as suas próprias e só depois com as dos americanos. Como estão obcecados pela América e como vivem num mundo de ilusão são incapazes de reagir às medidas que a União Europeia e os governos europeus têm tomado contra as suas liberdades. Se calhar nem se importem muito de as perder.