29.12.06

os dois reinos

Ler a história política de uma comunidade, de um país ou de uma época pelo óculo da religião, de qualquer religião, é um dos vícios de que enferma a mentalidade totalitária, qualquer que seja a posição adoptada. Na verdade, seguindo esse critério, há de tudo para todos: as piras da Inquisição, as perseguições jacobinas na Europa dos primórdios republicanos, os Cátaros, os Templários, o comunismo e o nazismo, o salazarismo e o franquismo, etc., etc., etc.. A religião compõe parte substancial da natureza humana e a explicação para o fenómeno pode ser imanente o transcendente. Devendo ser uma manifestação de individualismo e de intimidade, a religião pertence ao domínio do espírito e não ao do político, menos ainda ao do Estado, a não ser que, como Hegel, os sobreponhamos. Aliás, em abono da verdade, a primeira pedagogia sistematizada da laicidade é cristã, ou mesmo de Jesus Cristo, se aceitarmos o Novo Testamento, quando pregou a separação entre o Reino de Deus e o Reino de César. O resto, tudo o resto, as perseguições, as influências, os martírios infligidos de parte a parte, faz parte da história política dos homens e não das suas relações com o sagrado.