22.12.06

O 78

A linha 78 de autocarros do STCP acabará em Janeiro.
É hoje em dia uma linha totalmente ineficiente por, ao atravessar praticamente toda a cidade, desde o Castelo do Queijo até ao Hospital S. João, se enredar no trânsito e estrangulamentos citadinos, tornando a sua frequência e regularidade uma certeza de incertezas.
Mas nem sempre foi assim.###
O 78 faz parte do património e memória da cidade. Sobretudo quando até há alguns anos utilizava os autocarros de dois andares, à inglesa. Nele era a cidade dentro de si: atravessando os bairros burgueses, passando pelos bairros operários e dirigindo-se às zonas comerciais e históricas, todos o usavam.
Era o tempo em que no verão nele se ia, à pinha, para as praias, espreitando do andar de cima, os quintais e jardins das moradias, vendo o trânsito, os monumentos e a cidade como só hoje os turistas vêem. Era o autocarro que servia grande parte dos liceus da cidade, desde o Garcia, passando pelo Clara, o Infante ou o Fontes. E a Universidade, quando esta estava no centro da cidade. Era no 78 que se ia ao «Porto» (centro) fazer as compras, em que se ia apanhar o comboio, a camioneta ou aos hospitais. Nele se ia aos bancos, na «praça» e às finanças no Viriato. Quase todos os cinemas ficavam no seu longo caminho, desde o Foco, ao Nun'Alvares, Pedro Cem, Carlos Alberto, Coliseu, Sá da Bandeira, Batalha, Sala Bébé, Águia D'Ouro, São João ou Rivoli. E os estádios do Bessa e das Antas também dependiam do 78.
Ele foi a espinha a dorsal de um tempo da cidade.