29.12.06

Os totalitarismos perseguiram as religiões?

Sim e não.
Estaline oprimiu todos os cultos que não o seu. A crença nazi, essencialmente, um esforço de paganismo germânico, também procurou importunar a concorrência. Mas Hitler* nunca molestou verdadeiramente o cristianismo - pelo contrário, hoje sabemos que até estabeleceu uma simpática prática concertada com o Vaticano de Pio XII, antes e mesmo durante a guerra.
No entanto, a resposta à questão torna-se evidente se considerarmos outros totalitarismos do séc. XX: por exemplo, o franquismo espanhol, o fascismo de Mussolini e o Estado Novo português. Estas 3 ditaduras apoiaram-se fortemente no arrimo da religião - e esta apadrinhou-as de modo carinhoso só as abandonando quando pressentiu a queda iminente de cada uma delas.
Aliás, a experiência histórica demonstra-nos, pelo menos desde Constantino**, que a forma mais idónea do Estado se impor às pessoas é amparar-se numa religião única. Na verdade, embora não goste de generalizar, é possível afirmar que o Totalitarismo e a Religião mantêm, desde há muito, um contrato sinalagmático com evidentes proveitos negociais recíprocos. A unicidade oficial dos cultos privilegia a unidade política e favorece o caminho do Estado forte, aparentemente coeso e tendencialmente absoluto.
La Rochelle
é o exemplo de escola disso mesmo. E foi um santo, Agostinho, no início do séc. V, que tentou provar precisamente esta tese visando rebater as críticas dos muitos que julgavam o advento do cristianismo como a causa imediata da derrocada do império romano. Como era seu costume, fê-lo de um modo genial. Mas, pelos vistos, não convenceu toda a gente...

* Já agora, embora até me custe dizer esta obviedade, Hitler não perseguiu os judeus por causa da sua religião mas sim devido a razões raciais. No Holocausto foram exterminados judeus religiosos, agnósticos, ateus e cristãos. Apenas porque eram de etnia judaica.
** Antes também, evidentemente.