20.1.07
gravidez não-desejada
Uma mulher que descobriu hoje que está grávida e pondera fazer um aborto, dificilmente irá fundamentar a sua decisão - quer ela seja afirmativa ou negativa - em algum dos argumentos que têm sido apresentados pelos dois lados do debate sobre o referendo: se o aborto vai ou não onerar o SNS, se a Igreja Católica o aprova ou o reprova, se o Dr. Paulo Portas ou o Eng. José Sócrates são a favor ou contra, se o fará num vão de escada ou num hospital público.
A decisão será tomada por impulso - não por deliberação racional - porque é assim que são determinados os factos essenciais da existência humana. A própria vida de qualquer ser humano - de todos aqueles que existem hoje mais todos aqueles que existiram no passado - é o resultado de um impulso e de um dos mais poderosos impulsos da humanidade - o impulso sexual - o qual oblitera, por completo, qualquer resquício de racionalidade. Ainda que isso nos custe admitir, cada um de nós é, de forma esmagadoramente predominante, o produto de uma gravidez não-desejada. Literalmente, cada um de nós está cá por acaso.
E, estando nós cá por acaso, não deixa de ser surpreendente como nos sentimos capazes de decidir, por argumento pretensamente racional, acerca de outros virem ou não juntar-se a nós.