3.1.07

os restos do iluminismo

Os anti-regionalistas consideram que a regionalização do país traria para a política local um sem número de políticos sem escrúpulos, aldrabões, mal preparados e despesistas, eleitos por populações que, concluiu-se, se deixariam facilmente enganar nos actos eleitorais. Trata-se de um evidente preconceito anti-democrático, como já aqui foi assinalado, que põe em causa a capacidade popular de ajuizar correctamente as suas escolhas políticas e de as corrigir na eventualidade de as ver defraudadas.###Mas este preconceito tem outros corolários e envolve outras consequências. Em primeiro lugar, ele significa, a contrario sensu, que a situação actual é melhor porque o povo tem um reduzido controlo sobre quem o governa. De facto, não se pode presumir que o mesmo povo seja lúcido nas suas escolhas nacionais e irracional nas suas escolhas locais. Por conseguinte, isso só pode significar que os anti-regionalistas consideram que o controlo popular do aparelho do poder é actualmente muito reduzido, e que quanto menos o povo meter o bedelho nas coisas da governação mais feliz será. Em segundo lugar, ele significa que só um reduzido número de políticos - os eleitos da virtude, consegue superar as vulgares paixões do poder e colocar-se acima da vulgaridade. Essa elite dirigente não se encontra certamente na província, antes ruma à capital onde pode e deve ser apreciada.
Em última análise, o preconceito anti-democrático dos anti-regionalistas resulta da mentalidade iluminista de que o pombalismo e o Terreiro do Paço foram e são os símbolos maiores em Portugal. Como, na verdade, há tempos se escrevia aqui, essa mentalidade está bem viva e anda à solta por aí.