14.1.07

Um país cheio de "boas pessoas"

Conheço um sem número de histórias como esta. Sobre o mesmo tema e no resto.
Recordo, ainda estudante, de um pedido de contribuição entre amigos para que um casal de namorados não tivesse de casar apressadamente. Ele queria ter o filho, ela não porque «era muito nova». Ela fez o que quis. Dele ainda sou amigo a ela perdi-a de vista. Há 8 anos, por alturas do outro referendo, vi-a na televisão a apelidar as mulheres que abortam de «criminosas» em nome de uma seita qualquer que se dizia de "defesa da vida".
As "boas pessoas" nunca assumem que são diferentes do que delas se espera enquanto "boas pessoas". Embora façam aquilo que é preciso como todas as outras. Desde que não se saiba. Algumas até concordam, em surdina. «Sabe, eu até acho que você em razão, mas, compreende, na minha posição... já vê, não posso falar dessas coisas». Outras, mais "amigas", telefonam para me aconselhar. «Não estás a ser inteligente. Há coisas que se podem pensar - eu até concordo contigo em muitos assuntos! - mas não se dizem em público. Nem se escrevem». E eu, que também sou daqui, disfarço a náusea e até consigo sorrir.
A nossa compulsividade no fingimento é tal que é muito bem capaz de se estender até à solidão do voto.