31.8.05

Joy rosa-laranja

Alegre é um homem que se gosta de se definir como da «utopia», do «sonho». É a sua marca registada. Com ele, muita gente comunga desa mitologia, do paradigma de uma certa «esquerda». Em nome da qual o próprio Alegre renuncia a a ser responsável pela sua divisão, «abrindo caminho a uma vitória da direita».
Não há nada de mais sintomático da postura autista e totalmente fora da realidade do que essa divisão «civilizacional» de «direita/esquerda».
Acaso os dois prováveis candidatos presidenciais não estão de acordo em tudo o que diga respeito á política geral do Estado? Sobre as funções do Estado, sobre os poderes de intervenção e competências? Sobre o seu papel «dinamizador» e intervencionista? Não acreditam ambos que o investimento público é saudável e absolutamente necessário? Não aceitam ambos a Constituição Europeia e a PAC? Não defendem ambos uma politica de atribuição de subsídios a toda e qualquer actividade económica? Não acreditam ambos que se deve proteger os empresários portugueses? Acaso discordam sobre o modelo político, partidário e administrativo português? Alguma vez divergiram sobre a continuidade da existência de um grupo de comunicação social estatal, da necessidade de inúmeras e poderosas corporações e empresas públicas? Porventura ocorre entre eles alguma divergência quanto ao «modelo social europeu»?
A existirem diferenças será de oportunidade ou de grau. Muito pouco para se dizer que há uma dicotomia entre os candidatos supostamente representativos da «esquerda/direita». Não há alternativa: Soares e Cavaco são ambos sociais-democratas.
Pelo seu passado, ambos irão fazer uma campanha baseada na sua própria história, defendendo o actual modelo de Estado, arrogando-se da capacidade para o «melhorar». Ou seja, as diferenças, a existirem, serão de naureza pessoal ou de circunstância. Enfim, nada que possa interessar ao nosso futuro, pois tudo será para, na essência, se manter.

Daí que num mercado eleitoral concorrencial (que sempre permite melhores e mais claras escolhas), fosse fundamental que todas as outras correntes ideológicas estivessem presentes. Até aos votos.
Incluindo comunistas e demais socialistas totalitários, aos conservadores nacionalistas. E liberais, caso existam.